(Lusa) – O Brasil tem a maior floresta tropical do planeta e poderia impulsionar o mercado de créditos de carbono de reflorestamento e conservação num projeto capaz de faturar 24 milhões de dólares por ano (20,5 milhões de euros), indica um estudo do Instituto Escolhas.
O objetivo seria transformar as atuais concessões florestais na Amazônia brasileira outorgadas ao setor privado - voltadas para a extração sustentável da madeira e que atuam em áreas públicas da floresta - em campos de bioeconomia e pesquisa ambiental.
O estudo, apoiado pelo Instituto Arapyaú e ao qual a Efe teve acesso, aponta que dessa forma as concessões poderiam promover atividades complementares como o ecoturismo, a exploração sustentável de frutas e plantas medicinais típicas da amazônia brasileira ou a realização de pesquisa genética das espécies no bioma.
As atividades permitiriam a geração de créditos de carbono para a Redução de Emissões por Desflorestamento e Degradação Florestal (créditos REDD +) que depois poderiam ser comercializados no mercado, questão na qual outros países latino-americanos como Peru, Colômbia e México estão bastante avançados face ao Brasil.
De acordo com o Escolhas, existe potencial para gerar de 1,6 a 5,6 milhões de créditos de REDD + por ano, dependendo se as áreas estabelecidas estão mais ou menos pressionadas pelo desflorestamento.
Este volume duplicaria a oferta brasileira desta modalidade de crédito e representaria um contributo de 7 a 24 milhões de dólares por ano (entre 6 e 20,5 milhões de euros), considerando um valor médio de 4,3 dólares por empréstimo (3,6 euros).
Devido ao comércio ilegal de madeira e à falta de incentivos, hoje as concessões florestais ocupam apenas um milhão de hectares de floresta pública na amazônia brasileira, menos de um quinto da área possível (5,6 milhões de hectares).
“Estamos em busca de estratégias para ver como podemos manter a floresta em pé. A geração de créditos de carbono remuneraria esse serviço ambiental e seria um incentivo adicional para as concessões”, disse Teresa Rossi, coordenadora do projeto Escolhas.
Um projeto de lei que se baseou no estudo e que decorre no Congresso brasileiro busca modificar o arcabouço legal das concessões florestais para que isso seja possível e os modelos de licitações e contratos já estão sendo reformulados para incluir e explicar todas as alternativas que podem gerar créditos de carbono e sua lucratividade.
Dados oficiais indicam que só em 2020 a amazônia brasileira perdeu cerca de 10.300 quilômetros quadrados de floresta devido ao desflorestamento. Nesse mesmo ano a maior floresta tropical do mundo registou 103.161 focos de incêndio no Brasil.
Desflorestamento, incêndios e as mudanças climáticas reduziram a possibilidade de absorção de dióxido de carbono na floresta amazônica.
Segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Ambientais (INPE) publicado na revista Nature em julho passado, entre 2010 e 2018 a amazônia emitiu 1.060 milhões de toneladas de CO2 por ano, sendo 870 milhões da floresta tropical brasileira.
“O potencial da amazônia para ser um coletor de carbono é o mesmo que pode transformá-la em uma bomba de CO2. Se continuarmos desmatando nos níveis dos últimos anos no Brasil, a amazônia começará a ser um problema e deixará de ser =uma oportunidade de mitigação ", disse Rossi.
A margem de lucro das concessões florestais para a exploração sustentável da madeira tem sido cada vez mais reduzida pelo comércio ilegal desse material na amazônia brasileira.
Segundo Alexandre Saraiva, delegado da Polícia Federal, 99% da madeira comercializada pelo Brasil é extraída ilegalmente da amazônia.
“E não estou exagerando. Estamos falando de madeira nativa, não de eucalipto ou pinheiro”, garantiu o delegado.
Saraiva concluiu frisando que a corrupção que existe nos entes públicos e a falta de fiscalização adequada favorecem a extração ilegal de madeira, que é vendida a preços muito inferiores aos obtidos nas concessões florestais.
O delegado está na Polícia Federal há dezoito anos - dez deles em regiões da amazônia - por isso conhece o assunto de perto.
Em abril do ano passado, Saraiva foi retirado da chefia da Superintendência da Polícia Federal no Amazonas após denunciar a suposta interferência do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em investigações e auditorias de crimes ambientais.
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