O jogo da sucessão no Brasil está sendo jogado, antes mesmo de existir qualquer tabela de campeonato. Hoje o cenário é carregado na disputa Bolsonaro x Lula, reproduzindo um antagonismo radical direita x esquerda.
Antônio Achilis Silva
Algumas forças entendem que o país precisa de uma terceira via e se apresentam para a oportunidade. Com exceção de Ciro Gomes, são nomes que não existiam nesse jogo e que se posicionam para aproveitarem a oportunidade de agora ou, no mínimo, ganhar existência em futuros pleitos. Afinal, no Brasil temos eleições a cada dois anos. Dos nomes que estão tentando esse papel, destaco Rodrigo Pacheco. Ele é, de fato, uma novidade no cenário político, e as circunstâncias o colocaram na presidência do Senado – o que equivale a mais possibilidade de articulação e de visibilidade.
Vamos à leitura dos cenários dos dois principais estrelos das pesquisas. Bolsonaro atravessa o inferno astral que montou para si mesmo, sendo intensamente condenado pela opinião pública, pelo menos até agora, como explicitam as pesquisas. Comportou-se criminosamente em relação à pandemia, desprezando ostensivamente a tragédia e suas vítimas. A economia segue desastrosa, com desemprego, fome e inflação. Essas dificuldades são turbinadas pela incapacidade do presidente se entender com a sociedade, aspecto que abordo adiante.
Lula tem a seu favor o desastre Bolsonaro e sua experiência em dois mandatos. Contra ele há uma rejeição concreta advinda da trincheira direitista, que favoreceu a eleição de Bolsonaro. Lula encarna a esquerda que a direita detesta – o que justifica o discurso por uma terceira via. Agora, com sua inteligência politica inegável, Lula busca provar que ele é a tal terceira via. Para isso conversa com políticos em geral, sem preconceitos, dando passos pro lado direito do espectro. Em seus governos, Lula não fez trincheiras contra a direita, não contrariou nem enraiveceu empresários, que em nossa história sempre foram ativos no exercício do poder. Sem mexer nesse protagonismo histórico dos ricos, Lula incluiu os pobres nos programas de governo, até então destinatários de esmolas em troca de suas escolhas de votos. Ou seja, com Lula os pobres passaram a existir como titulares de direitos no bolo do poder.
A cena está em desenvolvimento, mas dá para identificar graves dificuldades na relação de ambos com a sociedade. Bolsonaro não tem como justificar a omissão ante o mais grave acontecimento da história do Brasil, desde o descobrimento – mais de 600 mil mortos pela Covid. Além disso, está um coveiro do meio ambiente, da cultura, da educação, da saúde… Tenta aparecer em eventos assinando liberações, mas não se envolve com as aflições dos seus destinatários, limitado à sua formação de capitão – “um passado de atleta”. Neste momento tenta um lance pesado, caro e espetaculoso: distribuir dinheiro aos miseráveis, principalmente no nordeste – quintal de Lula. Claro que o programa é necessário e foi inventado nos tempos de Fernando Henrique Cardoso e formatado por Lula, mas está evidente o objetivo de suborno da cidadania – e veremos se o eleitor vai cair nessa.
Dentre tantas dificuldades, Bolsonaro tem obstáculos em veículos chaves de comunicação, especialmente a Rede Globo (mas não só…) A propósito, a questão não se resume a destinar dinheiro para a Globo, que sempre desejou também exercer o poder. Portanto, comprar espaço nos intervalos está aquém dos desejos Marinhos. O lance de Bolsonaro, parece, passa a ser se aliar e turbinar o adversário inconciliável Rede Record e segmentos evangélicos.
Contra o projeto de Lula, pesam as trincheiras da direita, que detestam a ideia de vê-lo de novo na presidência. Como ele já venceu quatro eleições – duas para Dilma Roussef – a trajetória da prisão ao palácio não pode ser descartada. Portanto, aos interessados é melhor preservar as condições de convivência.
Antônio Achilis Silva
Jornalista- Especialista em Gestão Estratégica da Informação- UFMG
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