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domingo, 24 de outubro de 2021

Novo ciclo do algodão revitaliza economia do Ceará

De 2018 a 2021, o Estado registrou aumento de 108,7% na área plantada de algodão herbáceo e de 528% no faturamento. Com investimentos públicos e esforço conjunto, de produtores e órgãos técnicos, cotonicultura começa a retomar a importância histórica que já teve para a economia estadual



Muito além do verde, os campos do Ceará estão ficando tingidos de branco. É a cor do algodão, cultura que está revitalizando diversas regiões do interior, com emprego, renda e novas perspectivas econômicas para o Estado. No passado, a cotonicultura foi um dos motores da economia local. E, depois de décadas de inatividade, tem recebido, nos últimos anos, investimentos e incentivo do Governo do Estado para ressurgir no mercado.

“Chegamos a ter mais de 1,2 milhão de hectares plantados, até os anos 1980. Eram quase 160 usinas de processamento, nas regiões de Iguatu, Acopiara, Crateús, entre outros”, descreve Euvaldo Bringel, coordenador do Programa de Modernização do Algodão da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet). “Além disso, o algodão sustentava a agropecuária de corte, no chamado binômio algodão-boi, pois o resto das lavouras servia de alimentação para o gado”, detalha.

A retomada

Desde o declínio da cultura, foram feitas algumas tentativas de retomada, no entanto, sem a tecnologia suficiente. A partir de 2017, com o trabalho da Embrapa Algodão, em conjunto com o Sindicato das Indústrias de Extração de Fibras Vegetais de Algodão (Sindialgodão), ligado à Fiec, Centec, Ematerce, além de lideranças e produtores locais, o retorno do cultivo se tornou viável.

“Elaboramos protocolos, fizemos seminários, palestras e áreas demonstrativas de cultivo, no Sertão Central, no Cariri e no Apodi, para mostrar que era possível plantar algodão no Estado”, afirma Euvaldo Bringel.

Os resultados desse trabalho são equivalentes aos maiores centros produtores do País. De acordo com dados da Sedet, de 2018 a 2021, o Ceará alcançou um aumento de 108,7% na área plantada de algodão herbáceo (de 1.563 hectares para 3.263 hectares), aumento de 224,1% na produção (de 2.236 toneladas para 7.248 toneladas) e 528% de crescimento no faturamento (de R$ 2,5 milhões para R$ 15,7 milhões).

Atualmente, a produção de algodão está espalhada por 20 municípios do interior do Estado, com destaque para grandes áreas plantadas em Tabuleiro do Norte (400 hectares), Mauriti (300 ha), Milagres (305 ha), Boa Viagem (150 ha), Ibicuitinga (130 ha), Quixeramobim (120 ha) e Mombaça (100 ha).

Investimentos

Euvaldo Bringel diz que o Ceará tem vocação para essa cultura, e o investimento feito pelo Governo do Estado no Programa de Modernização do Algodão foi fundamental para alcançar esse novo momento. “O governador destinou R$ 1,5 milhão para o programa, que vem se ampliando ano a ano. Estamos formando cooperativas de produtores e atraindo investidores, o que vai ser decisivo para a continuidade desse trabalho”, diz Euvaldo Bringel.

“Dadas as ótimas condições existentes de clima e terra para o plantio, aliadas às novas tecnologias e sementes desenvolvidas pela Embrapa, espera-se que o Ceará figure entre os principais produtores e exportadores de algodão do País nos próximos anos”, projeta Victor Xavier de Mendonça Praxedes. “Espera-se que, ao fim de 2021, com os ganhos de produção, as lavouras forneçam até 5 mil kg por hectare plantado”, reforça.

Lavouras impulsionam emprego e renda

Há cerca de três anos, o produtor rural José Morais Filho resolveu apostar no cultivo do algodão e investiu em uma área de 30 hectares, localizado em Milagres, na região do Cariri. Passado esse tempo, os frutos da terra não deixam dúvida: a decisão foi mais do que acertada.

“Criamos uma associação de produtores, com 25 integrantes, estamos nos unindo cada vez mais. Para a safra 2021, plantamos em torno de 200 hectares. E prevemos 500 hectares para 2022. Na minha propriedade, devo ampliar para 80 ou 100 hectares neste ano. A retomada do algodão aqui na região está firme e consistente”, garante o produtor.

Graças ao apoio dos órgãos públicos e da Embrapa Algodão, os produtores do Cariri estão animados para continuar investindo. “Das atividades agrícolas por aqui, o algodão é a que gera mais mão de obra, principalmente, se a colheita for manual. E isso inclui a parte de colheita, transporte, beneficiamento, plantio, trato. Tudo isso emprega muita gente”, aponta.

“Só na minha área, de 30 hectares, eu tinha na colheita manual em média de 30 pessoas por dia trabalhando, durante dois a três meses. São dezenas de famílias, com emprego e renda garantidos”, observa o produtor rural, que aliou a produção a um trabalho de recuperação social.

“Nesta safra, contratei a mão de obra de pessoas vindas de um centro de apoio a recuperação de dependentes químicos. Essas pessoas ajudaram em mais de 70% da colheita, elas receberam o mesmo valor pago a qualquer trabalhador. Estamos investindo cada vez mais, inclusive em maquinário, fazendo o descaroçamento do algodão aqui na região, agregando de 20% a 25% de valor ao produto”, diz.

“Nosso esforço é para que o Ceará tenha uma nova dimensão na cadeia produtiva do algodão. Estamos em conversas bem avançadas com a Câmara Setorial da Moda, de incluir o algodão no Projeto 100% Ceará, em que vamos trabalhar a questão do registro do algodão por denominação de origem. O algodão cearense tem características muito especiais, de resistência e brancura, o que vai valorizar ainda mais nossos produtos. Isso vai ser um diferencial importante no mercado nacional e internacional”, afirma Euvaldo Bringel, coordenador do Programa de Modernização do Algodão da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet).

Junto com o algodão, a indústria têxtil ganhou impulso, tornando o Ceará um grande produtor e exportador. “Durante os séculos XIX e XX, a produção alimentou o polo têxtil que se formava na região, principalmente, em Fortaleza. Porém, devido à falta de inovação no plantio e à praga do inseto bicudo-do-algodoeiro, o Estado passou de grande exportador para maior importador do algodão”, observa Victor Xavier de Mendonça Praxedes, analista de finanças corporativas da Arêa Leão Consultoria Empresarial.

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