O grupo BRICS supera o G7 e pretende se tornar líder econômico e político global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O termo BRIC foi inventado pelo economista Jim O’ Neill, do banco de investimento Goldman Sachs, em 2001, com o objetivo de orientar as empresas e os investidores mundiais como ganhar dinheiro com os grandes países “emergentes” do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China.
Estes quatro países estão entre aqueles da comunidade internacional com maior território ou maior população. O termo fez grande sucesso, especialmente no período do superciclo das commodities. Mas no acrônimo original não havia nenhum país da África, o que era politicamente incorreto. Então foi incluída a África do Sul (South África) e o termo BRIC ganhou uma letra a mais, se transformando em grupo BRICS que virou um ator internacional.
Assim, o bloco virou uma sigla geopolítica que se transformou em um grupo que passou a desafiar a hegemonia do G7 – o grupo dos 7 maiores países capitalistas (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). O grupo BRICS reúne países muito heterogêneos e foi visto com descrença por muitos analistas, mas também foi visto como uma versão atualizada de líderes do Terceiro Mundo. Mas, com a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil e o aumento das divergências entre Índia e China, o BRICS perdeu protagonismo no cenário da governança internacional, especialmente durante a pandemia da covid-19.
Contudo, em termos econômicos, o BRICS continuou apresentando maiores taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e ultrapassou o G7 em 2020. O gráfico abaixo, com dados do FMI em poder de paridade de compra, mostra que, em 1980, o G7 representava cerca de 50% do PIB global e o grupo BRICS representava cerca de 10%, mas na atual década o G7 caiu para menos de 30% e o BRICS superou os 30% do PIB global. Portanto, o BRICS representa cerca de 1/3 da economia global, 40% da população mundial, 18% do comércio mundial e contribui com 50% d o crescimento econômico mundial.
A invasão da Ucrânia pela Rússia poderia ser mais um fator de enfraquecimento do bloco. Todavia, a XIV Cúpula do BRICS sediada pela China, ocorrida de forma virtual nos dias 23 e 24 de junho de 2022, mostrou que o grupo não está morto e que pode se fortalecer com a possibilidade de ampliar o número de membros do grupo e se tornar um contraponto ao G7 (Com uma possível entrada da Argentina o grupo ficaria BRICSA). De fato, a China apresentou uma perspectiva para transformar o BRICS em um contraponto às iniciativas de influência global dos Estados Unidos.
Na Cúpula, o presidente Xi Jinping atacou os EUA e afirmou que a hegemonia Ocidental tem provocado inúmeras tragédias, conflitos e guerras. Ele criticou as sanções ocidentais à Rússia após a guerra com a Ucrânia, dizendo que elas têm prejudicado a economia global.
A Declaração de Pequim, aprovada na 14ª Cúpula do BRICS, reitera o compromisso com o multilateralismo, enfatiza que a governança global deve ser mais inclusiva, representativa e participativa e se compromete com a defesa do direito internacional e o papel central das Nações Unidas no sistema internacional. A Declaração também insta os principais países desenvolvidos a adotarem políticas econômicas responsáveis, ao mesmo tempo em que gerenciam as repercussões das políticas para evitar impactos severos nos países em desenvolvimento.
Os diplomatas chineses sugeriram a formação de acordo de livre comércio entre os cinco membros do bloco, pois os países do BRICS são importantes mercados emergentes e grandes países em desenvolvimento e precisam agir com senso de responsabilidade para trazer força positiva, estabilizadora e construtiva ao mundo.
No discurso “Promovendo parcerias de alta qualidade e inaugurando uma nova era de desenvolvimento global”, o presidente Xi Jinping disse que o BRICS já desempenha um papel fundamental na ordem internacional e tem a possibilidade de alteração do equilíbrio de poder global.
Ou seja, a China pretende liderar um BRICS renovado e ampliado. Evidentemente, não é uma tarefa fácil, pois haverá questionamento e oposição por parte do G7 e da União Europeia. O Brasil, por exemplo, tem priorizado a entrada na OCDE e a Índia não pretende se afastar dos EUA, Europa, Japão e Austrália.
Nestes tempos em que se discute a desglobalização, muitas águas turbulentas vão correr debaixo desta ponte da governança global e da disputa da hegemonia mundial.
José Eustáquio Diniz AlvesDoutor em demografia, link do CV Lattes:
Referências:
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/06/2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário