Leonardo Trevisan
A reclamação foi justa: 14,2% a mais no preço do diesel, o combustível que mais transporta a comida até o nosso prato. O que não se comenta é que, no ano passado, 25% da oferta de diesel já foi importada, porque a capacidade das nossas refinarias é de pouco mais de 70% do consumo. Como a economia avançou um pouco no primeiro trimestre deste ano – e a capacidade das refinarias ficou na mesma – o diesel importado ultrapassou 30% do consumo. Os dados são da Superintendência de Defesa da Concorrência da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Esse combustível importado tem muita relevância. Não só pelo volume. Mas, principalmente, quando se leva em conta a Política de Preço de Paridade de Importação (PPI), de 2016, que define o preço dos derivados de petróleo com esse parâmetro: o mercado internacional. Motivo: se queremos que o investidor externo continue interessado em colocar dinheiro aqui para furar poços novos e manter os equipamentos de prospecção e refino atualizados (são caríssimos), o preço do produto final tem que ser o mesmo dos outros cantos do mundo, senão ele fica nesses outros cantos. Não tem milagre.
A alternativa para fugir do preço internacional não é boa. Basta olhar o vizinho. Na Argentina o preço do diesel importado é 36% mais caro que o preço na bomba. O país vizinho importa o mesmo que nós, 30% do consumo, e a estatal deles, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales, responsável por 55% da distribuição, fica com boa parte do prejuízo. Nas últimas semanas as importadoras reduziram a participação no mercado e apareceram problemas de abastecimento de diesel em 19 das 24 províncias argentinas. Mesmo com o limite de 20 litros para cada caminhão, o preço disparou. E, até proibição de abastecer veículo com placa estrangeira aconteceu.
Há solução ainda pior. Dizer que não se vai mexer na política de preços da Petrobrás não basta, só porque se olha o que acontece no vizinho. A solução não é culpar a alta externa de preços ou tentar alterar a Lei das Estatais, a que impede indicações políticas para as diretorias dessas empresas. Neste caso, devemos cumprir as exigências e competências para analisar e conduzir a área. Nós todos já vimos situações como essas acontecer e, o final, definitivamente, não foi feliz.
Leonardo Trevisan é professor de economia e relações internacionais na ESPM. Mestre em História Econômica, doutor em Ciência Política e pós-doutor em Economia do Trabalho.
Sobre a ESPM
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