Atuando há décadas com pesquisas de opinião, pesquisador avalia demanda por políticos que ocupem o espaço na direita que pode ser deixado caso ex-presidente fique inelegível
O futuro da direita no Brasil está sendo desenhado diante do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode tornar Jair Bolsonaro inelegível. Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e cofundador do Zeitgeist Public Affairs, os eleitores do ex-presidente já começaram a pensar em uma alternativa para as eleições de 2026. Dentro desse cenário, 54% dos eleitores de Bolsonaro aceitariam um nome da direita, mesmo que não endossado pelo ex-presidente. Outros 18% só aceitariam o Bolsonaro como candidato. Os dados são da pesquisa “Para onde vai a direita”, realizada pelo Zeitgeist Public Affairs, iniciativa do Instituto Locomotiva e do Ideia Instituto de Pesquisa.
“Nos últimos anos vimos uma direita capturada pelo bolsonarismo e os rumos da política dependem não só de oferta, mas também de demanda. A pesquisa aferiu que o eleitor tem uma necessidade por buscar alternativas ao bolsonarismo, já que mais da metade topa uma alternativa de direita não bolsonarista. Porém, na prática não basta ter uma demanda por uma mudança se não aparecer uma pessoa capaz de liderar essa mudança, essa flexibilização do bolsonarismo”, explica Meirelles.
O levantamento ainda mostrou que Michelle Bolsonaro é o nome que melhor personifica a continuidade do bolsonarismo. Porém, quando os entrevistados são questionados sobre qual representante desta corrente seria o melhor presidente da República, as respostas focam para Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. “Os familiares de Bolsonaro largam com um conhecimento grande e se aproveitam da força do sobrenome, mas, por outro lado, eles não têm referência de serem bons gestores. Tarcísio, neste cenário, aparece com força.”
Meirelles ainda cita candidatos que tinham força como centro-direita, como Geraldo Alckmin, Simone Tebet e Eduardo Leite, mas que perderam a chance de saírem pela direita. “A opção que eles fizeram no 2º turno, Alckmin e Tebet se aliando ao PT e Eduardo Leite se posicionando como antibolsonarista, faz com que eles não consigam capturar o eleitor de direita.”
A pesquisa ouviu 1.531 eleitores em todo o país, por telefone, entre os dias 30 e 31 de maio, e tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais.
Julgamento no TSE
Quanto ao julgamento no TSE, 55% acreditam que o ex-presidente não será impedido de disputar uma nova eleição. A pesquisa aponta que as opiniões sobre o futuro de Jair Bolsonaro ainda estão interligadas ao voto da eleição. Apenas 7% dos eleitores do ex-presidente acreditam que ele é culpado das acusações. Entre os eleitores que não votaram nem em Lula nem em Bolsonaro, esse percentual sobe para 29%. E entre os eleitores do petista, são 75%.
Homens, moradores da região sul e evangélicos reforçam o grupo dos que acreditam que a justiça não deveria impedir Bolsonaro de disputar uma nova eleição. Enquanto os mais jovens e os nordestinos são mais propensos a acreditar na culpa do ex-presidente. Moradores da região Centro-Oeste e evangélicos fazem movimento contrário, afirmando sua inocência.
“Os dados mostram que os resultados das urnas na última eleição ainda se mostra presente nas opiniões atuais. Os eleitores de Bolsonaro confiam mais em sua inocência. Entre aqueles que votaram em Lula essas opiniões se invertem. Essa dinâmica demonstra a continuidade de uma divisão dos brasileiros”, explica Renato Meirelles.
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