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quarta-feira, 5 de julho de 2023

Um risco a menos para o Real: um resumo do novo sistema de metas de inflação

Meta contínua é bem percebida pelo mercado


 

A última semana marcou a retirada de mais um fator de risco de desvalorização para o Real. Muitas especulações sobre possíveis alterações no sistema de metas de inflação brasileiro rondavam a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que ocorreu na última quinta-feira (29/jun).
 

A maioria das mudanças especuladas levariam a uma política monetária mais complacente com a inflação, consequentemente elevando as expectativas de inflação futura e reduzindo o juro real esperado – trazendo uma pressão de desvalorização para o Real no curto e médio prazo. Contudo, o resultado da reunião foi positivo para a moeda brasileira, dado que a maioria das mudanças especuladas não foram implementadas.
 

O CMN - composto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo Presidente do Banco Central (BCB), Roberto Campos Neto - anunciou que o Brasil adotará uma meta de inflação contínua de 3% a partir de 2025. As metas de 3,25% para 2023 e 3% para 2024 foram mantidas.
 

Isso representa uma mudança em relação às metas para o ano calendário, que estão em vigor desde que o sistema de metas de inflação foi implementado em meados de 1999. Os formuladores de políticas mantiveram a faixa de tolerância em 1,5 ponto percentual acima ou abaixo da meta de 3%.
 

Desde que o BCB começou a aumentar as taxas em março de 2021, as expectativas de inflação para os próximos 24 meses (janela temporal que será utilizada no novo sistema) têm se mantido consistentemente acima de 3%. Isso sugere que a adoção anterior da meta contínua não teria necessariamente afetado a política monetária do BCB, de acordo com relatório de macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets.
 

“A mudança para um horizonte contínuo é bem-vinda. A política monetária afeta a economia com uma defasagem de vários trimestres, portanto, faria sentido ter como meta a inflação com uma defasagem de vários trimestres em vez de anos-calendário. Desta maneira, o BCB se alinha com diversos pares internacionais – como o próprio Fed”, diz o analista de grãos e macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets, Alef Dias.
 

Recentemente diversos membros do governo central vêm tecendo diversas críticas ao sistema de metas de inflação, o que gerou preocupações de que o governo poderia tentar aumentá-las e/ou alterá-lo para tornar o BCB mais dovish. A decisão do CMN põe fim a essa preocupação.
 

“Não esperamos que as expectativas de inflação de longo prazo convirjam diretamente para a meta de 3%. As dúvidas sobre uma possível mudança no perfil da diretoria do BCB, após a entrada dos dois indicados do novo governo, podem manter as expectativas acima da meta por algum tempo”, afirma.
 

A decisão atingiu um equilíbrio do ponto de vista político. A adoção de metas contínuas significou que houve alguma mudança - uma pequena vitória para o presidente Lula, que tem se manifestado sobre as metas de inflação. Mas, de modo geral, as medidas sinalizaram uma ampla continuidade da política monetária do BCB.

Novo sistema reduz riscos, mas fortalecimento do Real ainda depende mais de fatores externos.


A mudança no sistema de metas de inflação se soma a diversos fatores positivos que têm contribuído para a recente valorização do Real: balança comercial atingindo superávits recordes, crescimento acima do esperado no Q1, inflação e expectativas para a mesma em constante queda e especuladores otimistas com a moeda.
 

Contudo, dado o novo “gráfico de pontos” do Fed e os últimos discursos de Jerome Powell, o mercado tem precificado uma política monetária mais hawkish nos EUA até o fim do ano. Isso tem reduzido o diferencial de juros esperado entre os títulos brasileiros e americanos e consequentemente o potencial de valorização da moeda brasileira.
 

O diferencial de juros é uma das variáveis do nosso modelo de Fair Value, e caso não haja uma mudança em sua trajetória recente, vemos pouco espaço para uma valorização do Real. A desaceleração do crescimento chinês no segundo semestre, bem como as possíveis recessões nos EUA e Europa, deve pesar sobre a balança comercial brasileira e sobre o posicionamento dos especuladores em moedas emergentes.

Confira aqui o relatório completo




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