Os erros do controle de preços dos combustíveis: um equívoco do governo PT

 Murillo Torelli é professor de Contabilidade Financeira e Tributária no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

 

A recente alta nos preços dos combustíveis, com o óleo diesel aumentando em 25,8% e a gasolina em 16,2% de uma só vez, evidencia uma política de controle de preços que se revela, no mínimo, equivocada. A gestão atual da Petrobras adotou essa estratégia na tentativa de manter os preços dos combustíveis artificialmente baixos, mas os resultados mostram que essa abordagem tem sérias consequências negativas em diversos aspectos.
 

Um dos principais problemas dessa política é o desestímulo às importações de diesel pela iniciativa privada. O congelamento dos preços, apesar de parecer benéfico em um primeiro momento, cria um ambiente desfavorável para a entrada de competidores no mercado, o que pode aumentar o risco de desabastecimento. Isso afeta diretamente os consumidores, que podem sofrer com a escassez e, como resultado, encarar uma inflação mais alta. Portanto, o controle de preços não protege a população, mas pode acabar prejudicando-a.

 

Além disso, o chamado "represamento" dos reajustes de preços impacta negativamente a própria Petrobras e seus acionistas. Esse congelamento interfere no fluxo de caixa da companhia, impactando seus investimentos e capacidade de crescimento. O resultado é uma empresa que se torna menos competitiva no mercado global, comprometendo sua sustentabilidade a longo prazo. O reajuste de preços não pode trazer de volta os ganhos perdidos no passado. Ao manter os preços abaixo da paridade internacional, a empresa acumula prejuízos ao longo do tempo, o que se torna insustentável no longo prazo. Os ajustes repentinos nos preços são uma tentativa de corrigir essa distorção, mas não podem recuperar completamente as perdas acumuladas.

 

Vale também analisar o impacto dos preços dos combustíveis nos índices de inflação. O óleo diesel tem um peso significativo no Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM), enquanto a gasolina tem influência direta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A tentativa de controlar artificialmente esses preços acaba afetando diretamente a inflação, desencadeando um efeito cascata nos preços de outros produtos e serviços.

 

A paridade de preços entre o mercado nacional e internacional era uma consequência previsível da política de controle, e agora o cenário de incerteza em relação aos preços reflete uma gestão ineficiente.

 

Com o aumento dos preços dos combustíveis, a inflação ganha força, o que pode levar o Banco Central a interromper a redução das taxas de juros, a busca pelo controle inflacionário se torna ainda mais desafiadora e a responsabilidade pela situação recai sobre o governo e sua política de controle de preços, mas novamente o governo deve culpar o presidente do Banco Central por não abaixar os juros.

 

A tentativa do governo PT de controlar artificialmente os preços dos combustíveis revela-se um erro grave em diversos aspectos. Além de prejudicar a própria Petrobras e seus acionistas, essa política afeta a concorrência no mercado, aumenta o risco de desabastecimento e tem impacto direto na inflação. A incerteza sobre os preços e a relação com a política monetária demonstram a complexidade das consequências dessa abordagem equivocada. Em vez de trazer benefícios duradouros, o controle de preços dos combustíveis acaba por causar mais danos do que vantagens para a economia e para a população.

 

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie 

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71^a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.