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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Matanças e Selvagerias

O cruel ataque da facção terrorista Hamas a civis desarmados em Israel horrorizou o mundo ocidental com a mesma intensidade causada pela destruição das torres gêmeas de Nova York em 2001. Esse novo conflito com os palestinos semeia discórdia também entre os brasileiros, que há pouco tempo estavam se digladiando apenas por política. Conflitos étnicos e religiosos, agravados por disputa territorial e ódios milenares, são mais complexos do que bolsonarismo x petismo.



por Márcio Metzker


A esquerda festiva não tardou a convocar manifestações de solidariedade à Palestina enquanto os israelenses ainda estavam recolhendo os cadáveres de mais de mil vítimas do traiçoeiro ataque do Hamas. Essa atitude, além de desumana e extemporânea, foi também hipócrita. Os opositores do imperialismo ocidental querem o fim da opressão do capitalismo, mas também querem distância dos palestinos. Nenhum país está disposto a oferecer-lhes territórios onde se instalarem e viver em paz. Tendo em vista que o primeiro-ministro de Israel é de extrema-direita, mostrar consternação e solidariedade aos judeus assassinados seria uma manifestação direitista.


A causa palestina não mobiliza toda a esquerda, e muito menos os grupos identitários. As feministas não querem apoiar uma cultura que impõe submissão e burkas às mulheres, ao passo que em Israel há igualdade de gênero até no serviço militar e o aborto com assistência médica é legalizado. Os homossexuais que há pouco tempo conquistaram direitos de cidadania no Ocidente seriam condenados à morte por suas preferências sexuais em vários países árabes. Outra parcela da esquerda aplaude a liberação do consumo de maconha para uso recreativo em Israel.


A direita, por sua vez, mesmo aquela que adota um discurso humanitário, teve dois motivos concretos para se alinhar a Israel. Israel é a ponta-de-lança dos interesses do imperialismo ocidental fincada no Oriente Médio, e também uma barreira contra a expansão do islamismo, que ameaçaria a hegemonia dos cultos evangélicos entre os pobres do Brasil.


Há duas narrativas antagônicas: uma da saga milenar de perseguições, êxodos, diásporas e extermínio das populações judaicas, e sua luta secular para reaver a terra de seus antepassados, e outra que acusa Israel de perpetrar as maiores brutalidades contra o povo palestino ao longo dos últimos cem anos. A primeira narrativa é bem documentada por livros muito famosos, como a Bíblia, e outros de autores respeitados. A segunda carece de fontes confiáveis, deixando no leitor ocidental a impressão de que os palestinos são um povo sem história e sem tradições culturais, que produz apenas ódio hereditário e grupos radicais como o Hamas e o Hezbollah.


A Cristandade cultua um herói nascido judeu, mas que pregava o amor, a tolerância e o perdão. Os árabes e judeus, por sua vez, cultuam deuses punitivos e vingativos, Javé do Antigo Testamento e Alá do Corão. Os judeus são fatalistas e lidam com a morte melhor que os cristãos, já que sua história é cheia de fatalidades. Os árabes acreditam que se morrerem num ato de coragem — como explodir um ônibus escolar cheio de crianças israelenses — serão recompensados no paraíso em palácios onde jorram leite, vinho e mel e os esperam sete virgens em almofadas de cetim.


O cenário mundial está mudando, e pode ser que a cultura democrática da civilização ocidental entre em decadência, sendo suplantada pela riqueza acumulada pelos potentados árabes e a expansão dos muçulmanos pelo mundo ocidental. Esses são tão numerosos que já criam tumultos e enfrentamentos como os vistos recentemente na França e na manifestação pró-Palestina neste domingo em Londres, que mobilizou muitos milhares.


Atualmente, a população muçulmana de Londres é de 12,4%, ou seja, cerca de 1,3 milhão de pessoas. O primeiro-ministro da Inglaterra, Rishi Sunak, e o prefeito de Londres, Sadiq Khan, são indianos e Khan muçulmanos. Há uma projeção demográfica inquietante que prevê, para 2050, uma população muçulmana de 17,2% no Reino Unido, 19,7% na Alemanha, 18% na França, 18,2% na Bélgica, 19,9% na Áustria, 17% na Noruega e 30,6% na Suécia. Hoje podemos prever que Israel conseguirá prevalecer num combate contra o Hamas e na sujeição dos palestinos, mas no futuro essa vitória seria incerta.

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