O Brasil tirou nota máxima em termos de recursos hídricos e concentração de oferta de alimentos. Mas marcou zero em igualdade econômica e em termos de polarização política
O estudo tem como objetivo analisar, de forma multidimensional, o andamento e a qualidade do crescimento econômico dos países, assim como os caminhos de desenvolvimento tomados por diferentes nações. O crescimento é medido pelo PIB per capita e sua variação nos últimos cinco anos. A escolha deste indicador tem relação com adoção de uma medida que realmente traga um resultado mais adequado para os ganhos de produtividade, uma vez que países populosos podem ter PIB alto, mas que não resultam em riqueza para os cidadãos.
Foi adotada uma metodologia comparativa entre as nações, sem a formatação de um ranking, garantindo as diversidades dos modelos de crescimento e em busca de caminhos para o futuro. 400 indicadores foram selecionados previamente para a análise dos dados, com uma seleção final de 84 indicadores, sendo 63 deles baseados em coleta de dados e 21 indicadores oriundos de uma survey eletrônica com foco em pesquisa de opinião com executivos em cargos de tomada de decisão e importantes formuladores de políticas públicas nos países participantes.
Para analisar o potencial de crescimento, o relatório observa 4 pilares: inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência, segundo os aspectos talento, recursos, financeiro, pesquisa e tecnologia e institucional como subitens. Como não há mais o formato de ranking, os indicadores são combinados para formar uma pontuação geral em uma escala de 0-100 pontos, a partir de metodologia proprietária única e resultando em um índice.
- Inovação: capacidade de uma economia em absorver e evoluir diante de novos avanços tecnológicos, sociais, institucionais e organizacionais. Os critérios de análise adotados para avaliar a capacidade de inovação dos países seguem um viés além do modelo clássico associado a pesquisa e desenvolvimento (P&D):
- Talento: disponibilidade de talento, considerando nível educacional e habilidades digitais e tecnológicas.
- Recursos: porcentagem da população com acesso à cobertura de rede móvel, capital de conhecimento através de tecnologia disponível e oferta inovadora de bens e serviços básicos.
- Financeiro: disponibilidade de financiamento a longo prazo e de capital de risco para pequenas e médias empresas e concessão de crédito doméstico ao setor privado.
- Pesquisa e tecnologia: presença de cultura e competição empresarial favoráveis, de acordo com o número de pedidos de patentes, pedidos de marcas registradas e publicações científicas, refletindo nas exportações de serviços avançados e nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
- Institucional: qualidade regulatória, considerando a presença de capital humano no setor público e estabilidade política.
- -Inclusão: capacidade de uma economia de envolver todos os cidadãos em suas oportunidades e benefícios.
- Talento: promoção da distribuição de renda, inclusão na força de trabalho e igualdade na educação, considerando mobilidade social, acesso à saúde para todos e paridade de gênero na força de trabalho.
- Recursos: acesso à elementos como transporte, moradia, dieta saudável, água potável, eletrificação e internet.
- Financeiro: desigualdade de riqueza e acesso a serviços financeiros, contas bancárias e poupança.
- Tecnologia: paridade de gênero em profissões intensivas em conhecimento e inclusão em posições de liderança, tendo em vista o custo associado à tecnologia da informação e comunicação.
- Institucional: garantia de direitos civis, participação política, inclusão em espaços públicos e igualdade de oportunidade no setor público.
- Sustentabilidade: capacidade de uma economia de manter uma estratégia ecológica dentro dos limites ambientais ao longo da sua trajetória. Importante o entendimento da vinculação deste tema aos desenvolvimentos a partir da inovação, talentos e impacto para o crescimento de um país.
- Talento: capital humano competências para a transição verde e energética, assim como o nível de entendimento sobre meio ambiente e natureza.
- Recursos: integridade da biodiversidade, considerando fatores como emissões anuais de gases de efeito estufa, consumo de energia renovável, danos ambientais agrícolas, captação total de água e quantidade total de resíduos.
- Financeiro: investimento em energia renovável.
- Tecnologia: quantidade de patentes verdes e comércio de tecnologia ambiental.
- Institucional: regulamentação energética, tratados ambientais e subsídios a combustíveis fósseis.
- Resiliência: capacidade de uma economia de resistir e se recuperar de choques externos às crises financeiras.
- Talento: envelhecimento da força de trabalho, tendo em vista investimento na reciclagem de habilidades, participação em treinamento de meio de carreira e preenchimento de vagas por mão de obra estrangeira.
- Recursos: concentração de produtos de exportação e no fornecimento de alimentos e commodities, assim como diversificação de fontes de energia, recursos hídricos e qualidade de infraestrutura.
- Financeiro: risco de inadimplência e resiliência do sistema financeiro, considerando a concentração bancária e classificação de crédito no país.
- Tecnologia: concentração no fornecimento de tecnologia.
- Institucional: legitimidade do estado, polarização social, estabilidade política, adaptação governamental e percepção de corrupção.
RESULTADOS
- INOVAÇÃO
O estudo aponta que existe um amplo potencial para crescimento e com melhorias significativas a serem alcançadas, em especial, na minimização de riscos potenciais para novos choques externos, adaptação frente a inovações tecnológicas e demandas por sustentabilidade.
Para o item inovação, a pontuação geral alcançada pelos países que participaram das análises foi de 45,2, item de menor pontuação entre os pilares analisados, ressaltando a importância de maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento em escala global e da implementação eficaz de novas tecnologias digitais.
Além disso, é importante ressaltar a busca por uma maior maturidade para inovação, passando por maiores investimentos públicos como indutores desta agenda, empresas privadas direcionando esforços financeiros na contratação de mão de obra qualificada e pela elaboração clara de uma estratégia para o desenvolvimento de novos produtos em aderência ao momento atual.
Em comparação aos outros fatores, inclusão (55,9) foi o item de maior pontuação neste relatório, indicando um esforço mundial para promover oportunidades igualitárias e na promoção de ações em busca da diversidade.
A média global em resiliência foi de 52,8, o que pode ser explicado pela pandemia do COVID-19, em que foi necessária uma resposta coordenada entre os países para respostas aos impactos econômicos e sociais.
Por último, sustentabilidade apresentou pontuação de 46,8, demostrando a implementação em uma fase intermediária de práticas sustentáveis e o compromisso global com a urgência dos problemas ambientais.
Apesar de cada país ter um caminho de crescimento específico, de acordo com suas circunstâncias, o relatório agrupou os países que possuem características semelhantes em sete arquétipos de crescimento, com alguns subtipos, possibilitando o aprendizado com decisões tomadas por nações em condições parecidas. Esses grupos não são rígidos, visto que nem todos os países se encaixam perfeitamente em um único arquétipo, pois é apenas uma metodologia adotada para mostrar padrões de decisões passadas. Dessa forma, é possível que um país se encontre em mais de um arquétipo, como o Brasil. Os arquétipos são:
- Arquétipo A são economias de renda alta, como Suíça, Finlândia, Suécia, Japão e Coreia do Sul, com crescimento impulsionado pela inclusão e pela inovação, tendo um desempenho um pouco mais baixo, mas ainda acima da média, em sustentabilidade.
- Arquétipo B são os países com crescimento impulsionado pela inclusão e inovação, porém com desempenho baixo em sustentabilidade, como Nova Zelândia, Luxemburgo, Singapura e Estados Unidos.
- Arquétipo C reúne os países com crescimento moderado, mas equilibrado, e com desempenho acima da média em sustentabilidade, como Brasil, Chile, Jordânia, Itália, Gana, entre outros.
- Arquétipo D são países com crescimento relativamente alto em transição para um caminho mais inovador, inclusivo e resiliente, como Armênia, Bulgária, Malta, Malásia, Polônia, Panamá, entre outros.
- Arquétipo E tem países com crescimento dependente de recurso, como Bahrein, Cazaquistão, Kuwait, Mongólia e Arábia Saudita.
- Arquétipo F inclui países com crescimento impulsionado pela eficiência, desenvolvendo inovação, inclusão e resiliência em uma base simples com uma visão ambiental reduzida, como Brasil, Índia, Colômbia, Chade, Nigéria, Paquistão, Congo, entre outros.
- Arquétipo G tem países com inovação, inclusão e resiliência equilibrados, mas abaixo da média, apresentando desempenho relativamente forte em sustentabilidade, como Bangladesh, Bósnia-Herzegovina, República Dominicana, Egito e Turquia.
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No fator Inovação, a Suíça mantém uma posição de destaque com a pontuação mais alta, 80,4. O país investe mais de 3% do seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento, realizando grandes investimentos em educação e promovendo a colaboração entre universidades e indústrias na busca por conhecimento e soluções. O resultado disso pode ser observado no grande número de patentes registradas anualmente, com 8.442 em 2021, sendo o maior número global há anos.
Em seguida, Singapura se destaca com uma pontuação de 76,43, sendo considerada o país mais inovador da Ásia, também com uma forte conexão entre instituições públicas e privadas como estratégia para o desenvolvimento de inovação. Além disso, o país investe muito em educação e tecnologia, visando qualificar profissionais e desenvolver uma economia digital baseada no conhecimento. Outro destaque é a Suécia (74,92), que tem como compromisso o investimento de mais de 3% do PIB em P&D, além de ocupar a primeira posição em número de pesquisadores e infraestrutura empresarial.
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- INCLUSÃO
A Suíça também obteve a melhor pontuação em Inclusão (77,89), visto que, na questão de gênero, pode-se observar uma participação notável das mulheres na política, com 42% dos representantes no parlamento e 43% nos ministérios. Já a Finlândia conseguiu o segundo melhor resultado, com uma nota de 77,89, o que pode ser explicado pela ação do país na promoção de emprego, educação e inclusão para minorias étnicas, como os ciganos, grupo marginalizado na Europa. Por último, a Islândia conquistou uma pontuação de 77,6 e foi o único país que conseguiu reduzir a lacuna de gênero em mais de 90%, principalmente na política e na economia, mas ainda tendo outras questões a serem melhoradas.
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- SUSTENTABILIDADE
Países como Chade (63,78), Jordânia (61,8) e Zimbábue (59,98) se destacam com as melhores pontuações em Sustentabilidade, mesmo fazendo parte do grupo de renda média baixa. A República do Chade sofre seriamente com os impactos das mudanças climáticas, devido à desertificação do Lago Chade, porém o país vem recebendo apoio de instituições internacionais, como o Fundo Verde para o Clima e Banco Mundial, em projetos de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Por outro lado, a Jordânia investiu em fontes de energia renováveis, visto que 93% da sua energia tinha que ser importada, o que correspondia a 8% do PIB, além do aumento da eficiência energética e redução do consumo. Por último, o Zimbábue se aproveitou da biodiversidade presente em seu território para desenvolver sua economia de forma sustentável, por meio do turismo de natureza e comercialização de produtos florestais, correspondendo a 6,3% do PIB em 2019.
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- RESILIÊNCIA
No item Resiliência, Luxemburgo (72,57), Nova Zelândia e Finlândia (71,25) alcançaram pontuações altas, visto que são economias diversificadas e estáveis, conseguindo se adaptar de forma ágil e eficiente a mudanças. Após a crise da pandemia do COVID-19, Luxemburgo estabeleceu um plano de recuperação, com reformas e investimentos em diversas áreas, como transição energética, digitalização, empregabilidade e formação profissional, para impulsionar o crescimento a longo prazo. Para resolver a escassez de trabalhadores qualificados em setores estratégicos, 1,5 milhões de euros foram investidos em programas de formação profissional, visando desenvolver competências sociais digitais relevantes para o mercado de trabalho. Além disso, 12,7 milhões foram destinados à modernização e digitalização da administração e dos serviços públicos.
Já a Nova Zelândia conseguiu se recuperar bem da crise, com uma resposta sanitária rápida associada com políticas fiscais e monetárias eficientes. Além disso, o país, por ser centrado na exportação de commodities, focou na diversificação dos produtos para reduzir sua dependência de outros mercados.
Assim como outros países europeus, a Finlândia também adotou esse tipo de plano, sendo inicialmente prometido 2,1 bilhões de euros de financiamento da União Europeia. Porém, a economia finlandesa conseguiu se desenvolver melhor que o previsto, tendo em vista que foi uma das menos afetadas na Europa pela crise, devido à atuação eficaz do governo, o que culminou na redução do financiamento para 1,95 bilhões de euros. Nesse sentido, 90 milhões de euros foram destinados a medidas para o aumento da taxa de emprego e fortalecimento do mercado de trabalho, enquanto 254 milhões para pesquisa e desenvolvimento em transição energética e digital, visando fortalecer sua economia.
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RESULTADOS DO BRASIL
O Brasil, com PIB per capita PPP (paridade poder de compra) de USD$16.402 (cerca de R$81.000) considerado no relatório como um país do grupo de renda média alta, registrou, durante o período de 2018 a 2023, um crescimento de 1,22% no PIB. Em termos de qualidade desse crescimento, o país obteve pontuações de 41,8 em Inovação, 55,3 em Inclusão, 55 em Sustentabilidade e 52 em Resiliência.
Esses resultados não destoam muito da média mundial, porém devem ser aprimorados, por meio de políticas públicas e estratégias organizacionais que aderecem os principais desafios atuais, para potencializar o crescimento sustentável diante de novas tendências emergentes no âmbito tecnológico, social e político.
O Brasil apresenta alguns destaques positivos que podem potencializar um crescimento promissor frente a macrotendências. Por exemplo, a disponibilidade de recursos hídricos e a maior concentração de oferta de alimentos, devido à forte produção agrícola do país, ampliam a resiliência a eventos que impactam o suprimento desses recursos básicos.
A infraestrutura de telecomunicações é outro elemento que se sobressai e pode apoiar o desenvolvimento de negócios e a promoção de inclusão e sustentabilidade no país, uma vez que o 5G habilita ganhos de produtividade e o estabelecimento de novas tecnologias. Os resultados do país indicam boa presença de capital e custo reduzido em tecnologias da informação e comunicação (TICs), bem como boa cobertura de rede móvel. Assim, o Brasil possui uma oportunidade para ampliar a vanguarda para adoção de infraestrutura em telecomunicações.
Por fim, a matriz energética brasileira, seja pela sua diversificação relativa bem como pelo investimento em energia renovável, colocam o país em uma posição vantajosa frente a tendências crescentes de transição energética e descarbonização.
Porém, os desafios para crescimento futuro das economias abrangem mais elementos, que demandam esforços por parte de instituições privadas e públicas.
Resultados dos principais indicadores para Brasil
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