Foto: Arquivo/Agência Brasil |
Fundação da Gide (FDG) mergulha nas entranhas da relação entre o crescimento econômico estagnado do Brasil e a deficiência na qualidade da educação básica. Este estudo revela uma correlação direta entre esses dois aspectos aparentemente distintos, destacando a persistência desse problema como um obstáculo ao desenvolvimento econômico do país.
A pesquisa não só identifica essa correlação, mas também examina o impacto direto do baixo índice de preparo do capital humano na taxa de desemprego, demonstrando a urgência de ações imediatas para reverter esse cenário preocupante.
Abaixo você confere uma entrevista com Rodrigo Godoy, CEO da FDG sobre a pesquisa, onde ele destaca que a solução para este desafio complexo não pode ser simplista. Investir na qualidade da educação emerge como uma necessidade premente, pois o estudo evidencia que a baixa produtividade do capital humano está intrinsecamente ligada aos índices deficientes de aprendizagem, principalmente na educação básica.
Entrevista
Como o estudo
identifica a correlação entre o baixo crescimento do Brasil e a qualidade
deficiente da educação básica?
O estudo realizado pelo Prof.
Roberto Dumas em parceria com a FDG analisa as principais causas que resultam
no baixo crescimento brasileiro ao longo das últimas décadas. Além dos fatores macroeconômicos
amplamente abordados, o estudo vai mais além, analisando os três fatores críticos
de produção, sendo um deles – e talvez o mais importante – o capital humano.
Dentro desse fator, são
explicitados os fenômenos demográficos, como a extinção do nosso bônus
demográfico, e a alta incidência da desocupação voluntária, mais conhecida como
geração “nem-nem”.
Entretanto, é a baixa produtividade
do nosso capital humano, ou seja, a capacidade inferior de produção de riqueza
por horas trabalhadas, que mais impacta no nosso baixo crescimento. Isso guarda
uma relação direta com nossos índices deficientes de aprendizagem,
principalmente na educação básica.
O PISA 2022, avaliação educacional
conduzida pela OCDE para alunos com 15 anos, demonstrou mais uma vez, não só a
estagnação do Brasil, como nossa posição inferior em relação a outros países em
matemática, leitura e conhecimentos gerais. Essa situação, mais tarde, leva a
profissionais menos capazes de produzir com alto valor agregado.
De que forma a falta de
investimentos na qualidade da educação é apontada como um desafio significativo
para o crescimento econômico, segundo as conclusões do estudo?
A primeira questão importante é que
o Brasil não investe pouco em educação. O Brasil priorizou historicamente o investimento
em ensino superior em detrimento da educação básica. Estudos recentes colocam o
Brasil entre os países que menos investem em educação básica no mundo.
Ainda assim, alunos de países com igual patamar de investimento como a Colômbia e a Turquia, conseguem um grau mais elevado de proficiência que o Brasil, o que sugere fortemente um problema de gestão do sistema educacional básico no Brasil.
Quais são os principais
aspectos relacionados à infraestrutura escolar, formação de professores e
métodos pedagógicos abordados no estudo como fatores que influenciam a
qualidade da educação?
O problema é de gestão. Muitos
gestores de rede e escolares ainda acreditam que gestão educacional é tão
somente garantir o funcionamento da infraestrutura mínima da escola. Gestão
educacional em sua maneira eficiente é garantir os meios para que os alunos de
fato aprendam. Os gestores que entendem isso focam sua atuação na verdadeira
finalidade, e tratam de organizar os meios prioritários para tal.
Em nossos mais de 20 anos de
atuação na educação básica, já compreendemos e sistematizamos quais são as
causas mais impactantes e frequentes que resultam na baixa aprendizagem dos
alunos. Atuando nessas causas fundamentais, o impacto no resultado é direto.
Foi o que ocorreu no Ceará a partir do início dos anos 2000, e em mais 7.000
escolas de 12 estados, quando aplicamos a GIDE – Gestão Integrada da Educação.
Como o baixo índice de
preparo do capital humano, conforme evidenciado na pesquisa, contribui para a
taxa de desemprego no Brasil?
O baixo índice de preparo do nosso
capital humano leva o Brasil ter um índice elevado de desemprego involuntário.
Na prática, é o seguinte: como temos uma parcela elevada da população economicamente
ativa com preparo inadequado, o país precisa fazer uma política macroeconômica
contracionista, com juros altos, de modo a manter uma espécie de “piso” na taxa
de desemprego involuntário, na casa de 7%, no intuito de evitar a pressão
inflacionária.
Do contrário, ocorre um choque de
oferta, e o mercado entra em concorrência pelos profissionais já empregados, gerando
pressão inflacionária nos salários. É um fenômeno cruel do ponto de vista
social.
O estudo destaca a
necessidade de ações imediatas em resposta ao impacto do baixo índice de
preparo do capital humano. Quais seriam essas ações sugeridas?
A ação recomendada é uma intervenção
forte e ampla na gestão de nosso sistema educacional básico. O pacto nacional
pela educação básica no Brasil, a exemplo do que ocorreu na Coreia do Sul na
década de 80, precisa finalmente acontecer.
A boa notícia é que temos toda a
expertise disponível dentro do país para que isto ocorra e há um conjunto de gestores
já cientes do que precisa ser feito, desde o nível ministerial até em redes
municipais. Caso isto ocorra, podemos ter um outro panorama educacional em
poucos anos, e uma qualidade do capital humano radicalmente melhor em uma
década. Isso será crucial para um desenvolvimento econômico elevado e
sustentável no Brasil.
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