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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Entrevista: Estudo destaca a correlação entre o baixo crescimento do Brasil e a qualidade deficiente da educação básica

Foto: Arquivo/Agência Brasil


Fundação da Gide (FDG) mergulha nas entranhas da relação entre o crescimento econômico estagnado do Brasil e a deficiência na qualidade da educação básica. Este estudo revela uma correlação direta entre esses dois aspectos aparentemente distintos, destacando a persistência desse problema como um obstáculo ao desenvolvimento econômico do país.



A pesquisa não só identifica essa correlação, mas também examina o impacto direto do baixo índice de preparo do capital humano na taxa de desemprego, demonstrando a urgência de ações imediatas para reverter esse cenário preocupante.


Abaixo você confere uma entrevista com Rodrigo Godoy, CEO da FDG sobre a pesquisa, onde ele destaca que a solução para este desafio complexo não pode ser simplista. Investir na qualidade da educação emerge como uma necessidade premente, pois o estudo evidencia que a baixa produtividade do capital humano está intrinsecamente ligada aos índices deficientes de aprendizagem, principalmente na educação básica.




Entrevista


Como o estudo identifica a correlação entre o baixo crescimento do Brasil e a qualidade deficiente da educação básica?


O estudo realizado pelo Prof. Roberto Dumas em parceria com a FDG analisa as principais causas que resultam no baixo crescimento brasileiro ao longo das últimas décadas. Além dos fatores macroeconômicos amplamente abordados, o estudo vai mais além, analisando os três fatores críticos de produção, sendo um deles – e talvez o mais importante – o capital humano.


Dentro desse fator, são explicitados os fenômenos demográficos, como a extinção do nosso bônus demográfico, e a alta incidência da desocupação voluntária, mais conhecida como geração “nem-nem”.


Entretanto, é a baixa produtividade do nosso capital humano, ou seja, a capacidade inferior de produção de riqueza por horas trabalhadas, que mais impacta no nosso baixo crescimento. Isso guarda uma relação direta com nossos índices deficientes de aprendizagem, principalmente na educação básica.


O PISA 2022, avaliação educacional conduzida pela OCDE para alunos com 15 anos, demonstrou mais uma vez, não só a estagnação do Brasil, como nossa posição inferior em relação a outros países em matemática, leitura e conhecimentos gerais. Essa situação, mais tarde, leva a profissionais menos capazes de produzir com alto valor agregado.

 

De que forma a falta de investimentos na qualidade da educação é apontada como um desafio significativo para o crescimento econômico, segundo as conclusões do estudo?


A primeira questão importante é que o Brasil não investe pouco em educação. O Brasil priorizou historicamente o investimento em ensino superior em detrimento da educação básica. Estudos recentes colocam o Brasil entre os países que menos investem em educação básica no mundo.


Ainda assim, alunos de países com igual patamar de investimento como a Colômbia e a Turquia, conseguem um grau mais elevado de proficiência que o Brasil, o que sugere fortemente um problema de gestão do sistema educacional básico no Brasil.

 

Quais são os principais aspectos relacionados à infraestrutura escolar, formação de professores e métodos pedagógicos abordados no estudo como fatores que influenciam a qualidade da educação?


O problema é de gestão. Muitos gestores de rede e escolares ainda acreditam que gestão educacional é tão somente garantir o funcionamento da infraestrutura mínima da escola. Gestão educacional em sua maneira eficiente é garantir os meios para que os alunos de fato aprendam. Os gestores que entendem isso focam sua atuação na verdadeira finalidade, e tratam de organizar os meios prioritários para tal.


Em nossos mais de 20 anos de atuação na educação básica, já compreendemos e sistematizamos quais são as causas mais impactantes e frequentes que resultam na baixa aprendizagem dos alunos. Atuando nessas causas fundamentais, o impacto no resultado é direto. Foi o que ocorreu no Ceará a partir do início dos anos 2000, e em mais 7.000 escolas de 12 estados, quando aplicamos a GIDE – Gestão Integrada da Educação.

 

Como o baixo índice de preparo do capital humano, conforme evidenciado na pesquisa, contribui para a taxa de desemprego no Brasil?


O baixo índice de preparo do nosso capital humano leva o Brasil ter um índice elevado de desemprego involuntário. Na prática, é o seguinte: como temos uma parcela elevada da população economicamente ativa com preparo inadequado, o país precisa fazer uma política macroeconômica contracionista, com juros altos, de modo a manter uma espécie de “piso” na taxa de desemprego involuntário, na casa de 7%, no intuito de evitar a pressão inflacionária.

 

Do contrário, ocorre um choque de oferta, e o mercado entra em concorrência pelos profissionais já empregados, gerando pressão inflacionária nos salários. É um fenômeno cruel do ponto de vista social.

 

O estudo destaca a necessidade de ações imediatas em resposta ao impacto do baixo índice de preparo do capital humano. Quais seriam essas ações sugeridas?


A ação recomendada é uma intervenção forte e ampla na gestão de nosso sistema educacional básico. O pacto nacional pela educação básica no Brasil, a exemplo do que ocorreu na Coreia do Sul na década de 80, precisa finalmente acontecer.


A boa notícia é que temos toda a expertise disponível dentro do país para que isto ocorra e há um conjunto de gestores já cientes do que precisa ser feito, desde o nível ministerial até em redes municipais. Caso isto ocorra, podemos ter um outro panorama educacional em poucos anos, e uma qualidade do capital humano radicalmente melhor em uma década. Isso será crucial para um desenvolvimento econômico elevado e sustentável no Brasil.

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