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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Caso Mariana na Inglaterra: e-mail inédito revela que BHP foi alertada dos riscos de colapso da barragem

Corte inglesa determinou que mineradora entregue contrato de trabalho de CEO da BHP que pode mostrar envolvimento no gerenciamento da Samarco

 

Antonio Cruz/ Agência Brasil

Um e-mail enviado por um ex-executivo da mineradora anglo-australiana BHP no dia seguinte ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), mostra que a BHP havia solicitado anos antes um relatório independente sobre a segurança da mina, que foi então apresentado à diretoria da Samarco. O e-mail foi revelado nesta quinta-feira (18) durante audiência no Tribunal Superior de Londres e mostra que a BHP tinha envolvimento operacional na gestão da barragem e estava ciente dos riscos de colapso.
 

Os advogados do escritório Pogust Goodhead, que representa cerca de 700 mil vítimas, alegam que a BHP deve ser responsabilizada pelo colapso porque exercia controle na Samarco, envolvia-se na gestão e tinha conhecimento dos riscos relacionados ao rompimento. Além disso, acusam a BHP de ser poluidora indireta nos termos da legislação brasileira por ter financiado e recebido dividendos da Samarco. A BHP, por sua vez, alega que era uma mera acionista da Samarco, sem papel na operação diária da mina.


Várias evidências apresentadas pelos advogados das vítimas durante a audiência desta quinta contradizem as alegações da BHP . Uma delas é o e-mail enviado por Marcus Randolph, ex-chefe de divisão da BHP que fazia parte do conselho da Samarco, ao então diretor executivo da BHP, Andrew Mackenzie, no dia seguinte ao desastre:

"Eu era uma grande parte da Samarco na época, e nós nos empenhamos muito na segurança da barragem. Depois de uma visita ao local, enviei uma nota à Samarco que continha comentários extensos sobre o risco da barragem. Se eu puder ajudar de alguma forma, entre em contato comigo. Enviei várias cartas ao MD (Managing Director) solicitando revisões da barragem e me lembro muito bem dos acontecimentos. Acredito que também havia alguns documentos no registro de riscos da BHP e nosso conselho/comitês tiveram discussões sobre o risco", informou Randolph no e-mail.

Também foi revelado que o sistema de gerenciamento de risco “1SAP” da BHP incluía um código de risco específico para "Falha da barragem de rejeitos da Samarco". Esse fato sugere que a empresa estava ciente dos problemas com a barragem antes do colapso.

Contrato de trabalho


A juíza Finola O'Farrell, que encabeça o caso, determinou ainda que a BHP entregue o contrato de trabalho de seu diretor-executivo na época do colapso da barragem de Mariana, juntamente com uma série de outros documentos que podem provar a responsabilidade da empresa pelo desastre.
 

Os advogados do Pogust Goodhead argumentaram com sucesso que o contrato de trabalho na época do desastre de Mike Henry (atual CEO), poderá revelar quais incentivos e indicadores desempenho (KPIs) os executivos da BHP recebiam pelo gerenciamento e segurança das operações da Samarco.
 

Novas provas


Tom Goodhead, CEO e sócio-administrador do Pogust Goodhead, acredita que as novas evidências reveladas hoje no tribunal contradizem a posição pública da BHP. "A BHP passou oito anos e meio negando reparação justas às vítimas, cujas vidas foram devastadas, enquanto gasta milhões nos tribunais para tentar esconder a verdade. As provas explosivas reveladas hoje no tribunal sugerem que a empresa estava ciente dos problemas com a barragem antes de seu colapso. Se a BHP é genuína em seu desejo de que a verdade venha à tona, é imperativo que ela libere todos os documentos relevantes."
 

A barragem de Mariana entrou em colapso em novembro de 2015, liberando cerca de 43 milhões de m³ de lama tóxica na bacia do Rio Doce. O rompimento destruiu vilarejos, impactou dezenas de municípios e afetou o modo de vida de milhões de pessoas nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro.

O colapso é considerado o pior desastre ambiental da história do Brasil e seus efeitos ainda são sentidos até hoje.
 

A BHP está sendo processada na corte da Inglaterra pelo escritório de advocacia global Pogust Goodhead, que representa cerca de 700.000 vítimas, incluindo 46 municípios, 10 mil membros de comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais, além de empresas, igrejas e autarquias. O processo corre na justiça inglesa porque a BHP – que, juntamente com a Vale, são donas da Samarco – é anglo-australiana. O julgamento de responsabilidade está marcado para outubro de 2024.

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