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sexta-feira, 19 de abril de 2024

O que fará Israel?



Por Emanuel Pessoa* 


Ao que tudo indica, o conflito no Oriente Médio chega a um ponto crítico e Israel – parte diretamente envolvida – enfrenta imensa pressão externa e interna, tirando muito a sua margem de erro. Com o ataque de mísseis ao Irã organizado pelo exército de Israel na manhã de 19 de abril, ambos os países se engajaram, pela primeira vez, em ações militares diretas nos respectivos territórios no espaço de uma semana. Por enquanto, não há sinais de que a situação vá desacelerar.


Israel não confirma nem desmente o ataque, mas sua autoria é reconhecida e se trata de óbvia retaliação ao bombardeio de seu território organizado pelo Irã há poucos dias, repelido com sucesso. Por sua vez, o governo iraniano limitou-se a comentar que a sua defesa aérea conteve um ataque de “infiltradores” que operaram drones em seu território, e que nenhum dano foi causado à infraestrutura.


De ambos os lados, vemos ações extremamente calculadas para demonstrar força e capacidade de reação, mas não o suficiente para que os autores recebam o ônus de iniciar um conflito que fica cada vez mais próximo. Nessa fase de tensões, as provocações ditam o tom e qualquer movimento errático ou mal executado, seja de que lado for, pode ser o suficiente para acender a fagulha de uma guerra que deve arrastar o mundo todo consigo.


Pelo alinhamento aos países desenvolvidos e interesses econômicos envolvidos, a situação mais crítica parece estar do lado de Israel. A opinião pública mundial ficou do lado dos israelenses em outubro, quando o grupo extremista Hamas - que defende o fim do Estado de Israel e é apoiado pelo Irã - atacou cidadãos locais e levou dezenas de reféns para a cidade palestina de Gaza. Isso começou a mudar com a reação brutal do exército israelense, que desde então vem bombardeando a cidade em busca dos reféns e causando severas baixas entre os civis, que já são contadas na casa das dezenas de milhares.


Além da pressão mundial por moderação, o governo israelense é criticado internamente por não ter previsto o ataque terrorista e conduzir o conflito predominantemente por motivações políticas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.


Nesse cenário, o ataque promovido por Israel ao Irã deve ser entendido pela necessidade de Netanyahu de unir a opinião pública de Israel contra um inimigo comum, removendo o foco dos seus problemas políticos e jurídicos pessoais. Com isso, a oposição ao seu governo tem ganhado força e seu governo fica cada vez mais impopular.


Bibi, como o primeiro-ministro é conhecido, é sustentado por uma coalizão de políticos linha-dura, sem os quais já teria caído e poderia enfrentar julgamentos capazes de aniquilar sua carreira e até mesmo levá-lo à prisão.


Essa dificuldade de obter consenso interno pressiona ainda mais o governo israelense e é um fator considerável de risco. Nessa situação, o Oriente Médio se aproxima de um conflito generalizado que pode arrastar as grandes potências mundiais em função de questões políticas internas de Israel.


É inegável o direito de Israel de retaliar os ataques que sofre, mas, pelas condições externas e internas que se encontra, uma escolha errada pode trazer consequências desastrosas. Diante dos riscos da escalada, a prudência deve ser priorizada e isso inclui alinhar sua disputa aos fóruns de discussão internacionais, que pendem para a sua causa.


*Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Internacional, Governança Corporativa, Direito Societário, Contratos e Disputas Estratégicas. Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP, Certificado em Negócios por Stanford, Bacharel e Mestre em Direito pela UFC, além de palestrante e comentarista. Além de Professor da Chinese Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.

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