Economista José Cláudio Securato avalia que, apesar de a situação fiscal do Brasil não ser das melhores, é preciso apagar a discussão sobre o déficit para recuperar a economia do Rio Grande do Sul
“Apaga a discussão sobre o equilíbrio fiscal. É preciso ressaltar que em relação ao papel do Estado, em um momento como este, é aceitável ter déficit público”. A frase é do economista e administrador José Cláudio Securato a respeito do que é necessário gastar em ações humanitárias para recuperar a economia do Rio Grande do Sul, devastada por enchentes que afetaram mais de 80% dos municípios daquela unidade da federação.
O economista diz que ainda é cedo para realizar cálculos precisos sobre os impactos, pois o fenômeno continua em andamento, mas ele acredita que houve perdas entre um terço e metade do PIB, que em 2023 somou R$ 650 bilhões. Desta forma, o prejuízo deve ficar entre R$ 200 bilhões e R$ 300 bilhões. “É um Estado forte, exportador e que também vende produtos para o Brasil inteiro. Por isso, o impacto vai reverberar na balança de pagamentos, pois haverá redução das exportações, em negócios por todo o Brasil e, principalmente, no próprio Estado”.
A solução para a hecatombe é muito cara e vai exigir grande esforço dos poderes Executivo e Legislativo e o bom-senso de que não é o momento de se prender às regras fiscais. E nesse ponto a tragédia traz ensinamentos para governo e legisladores. Se todos os governos tivessem a preocupação de manter o equilíbrio fiscal, os gastos para salvar o Rio Grande do Sul teriam impacto menor nas contas públicas, porém, como ao longo dos anos e mesmo agora, os esforços para reduzir os dispêndios estiveram aquém do necessário, um gasto gigantesco – humanitário e econômico – se juntará às dívidas já existentes.
Na análise de Securato, a situação econômica do Brasil se deteriorou no segundo trimestre em comparação com o primeiro por uma série de razões. No final do ano passado a expectativa era de que os cortes de juros dos Estados Unidos fossem começar no primeiro semestre desse ano, particularmente, em março. A essa expectativa agora é para agosto. “Mas pelos números de inflação que observamos nos Estados Unidos, pela taxa real de inflação, talvez não tenha redução de juros por lá neste ano”, observa. Segundo o economista, esse arcabouço é importante porque a taxa de juros americana é a taxa livre de risco do mundo. Ela sempre vai atrair mais capital e serve de parâmetro a qualquer medida de investimento.
No âmbito local, a questão fiscal que piorou recentemente é uma consequência nítida da abordagem do governo em flexibilizar o cumprimento da meta fiscal. “E aqui eu também coloco o Congresso dentro deste desvio de rota, pois não é só um problema do Poder Executivo. É um problema também do Poder Legislativo que hoje consome um nível de emendas gigantesco. E não podemos esquecer que o governo Lula é marcado na sua relação com o Congresso como um governo que tem liberado emendas numa proporção nunca vista”, avalia ao lembrar que, depois da eleição, em dezembro, antes de tomar posse, o governo Lula já começou com R$ 100 bilhões de emendas. “É um volume gigantesco de dinheiro. E esse processo não para”.


Nenhum comentário:
Postar um comentário