Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil
*Texto originalmente publicado no portal Sul 21.
O aquecimento da Terra por efeitos antropocêntricos não gera um padrão único de mudanças climáticas. São anomalias que combinadas a fatores locais criam comportamentos de intensidade não observados anteriormente. A região central do Brasil encontra-se com a atuação de um bloqueio atmosférico, este impede o deslocamento de sistemas frontais, os quais ficam aprisionados na região sul, causando as chamadas frentes estacionárias, que tem como consequência a ocorrência de chuvas intensas e tempestades mais severas.
A novidade na equação anual do clima riograndense é o excesso de vapor vindo da região sudoeste (rios voadores) e o oceano mais quente. Parte deste comportamento tem autoria do El Niño, mas a parte mais substantiva vem do Atlântico mais quente que é um efeito do aquecimento global. A frequência destas chuvas excepcionais demonstram que efeitos extremos são um novo normal. Estas anomalias, no entanto, podem ocorrer não somente sob a forma de chuvas, vendavais e ciclones, mas igualmente secas.
Desastres farão parte da realidade do Rio Grande do Sul. Enfrentá-los requer uma combinação de ciência e administração pública. Conforme a Organização Meteorológica Mundial os Serviços Climáticos (SC) baseiam-se nos resultados da previsão meteorológica e, mais importante, na adaptação desta previsão para as ameaças decorrentes do tempo, e do clima, com o fornecimento de alertas de riscos a setores de hidrologia, agricultura, desastres naturais, aviação, navegação, energia, saúde e muitos outros. Em síntese, SC não é meramente uma previsão de tempo e de clima e sim uma rede de instituições trabalhando em parceria para minimizar os riscos que a população vem enfrentando.
Isto significa inclusive preparar a população através do ensino nas escolas.
Temos a necessidade urgente de organizar os diferentes setores da sociedade para formar uma rede unificada entre as diferentes instituições que de forma conjunta possam auxiliar os órgãos governamentais e privados, e aos cidadãos de forma geral, para o planejamento aos riscos decorrentes de eventos extremos de tempo e de clima, associados ou não com mudanças climáticas, bem como se preparar para tomada adequada de ações.
A intervenção institucional e articulada da UFRGS nesse cenário é crucial. Uma das maiores universidades públicas do Brasil não pode ficar inerte frente a um quadro tão grave. Seja por meio de ações de apoio e suporte a socorro emergencial, ou por meio de ações continuadas de pesquisa e extensão que possam gerar dados e subsídios para decisões e políticas públicas de reversão ou mitigação do quadro de mudanças climáticas. Há no tecido da universidade iniciativas que atuam nessa direção, mas elas precisam ser direcionadas por uma orientação estratégica central, com apoio e articulação institucional que as potencialize e as direcione para as questões emergenciais, sob pena de não realizarem toda sua potência de incidência sobre o quadro que vivemos.
O estabelecimento de um Programa de Serviços Climáticos é estratégico para o estado e temos certeza que tanto a UFRGS como as demais Universidades públicas e privadas do RS certamente seriam parceiras para uma iniciativa como esta. O excepcional é o novo anormal.
Márcia Cristina Bernardes Barbosa, Professora titular do Instituto de Física
Pedro de Almeida Costa, professor associado da Escola de Administração
Rita de Cássia Marques Alves, professora do Instituto de Geociências e PPG de sensoriamento remoto
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