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quarta-feira, 26 de junho de 2024

De um lado, o Hamas. De outro, o Hezbollah. O que isso pode impactar no futuro das negociações de paz?



Por Marcos Knobel*

 

Na semana passada, o filósofo Luiz Felipe Pondé fez uma análise sobre a possibilidade de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Ele ressaltou os perigos de uma tensão ainda maior com a entrada efetiva do grupo terrorista libanês Hezbollah na guerra e pontuou que o embate pode não ter uma negociação no curto prazo por conta dos interesses dos países envolvidos.


 

Pondé tem razão em várias partes de seu raciocínio. Desde o massacre ocorrido em 7 de outubro em Israel, orquestrado e colocado em prática pelo Hamas, o Hezbollah vem “avançando” lentamente no conflito - seja com o envio de drones assassinos ou disparando mísseis em direção à região - elevando ainda mais a temperatura do conflito. O aumento do número de confrontos vem subindo em número e escala. Segundo porta-vozes do grupo, sua atual rodada de combates com Israel tem como intuito fornecer apoio aos palestinos em Gaza.


 

O “estado de guerra crônica” entre o Líbano e Israel é uma realidade que existe há décadas, com uma constante troca de farpas e ataques. Assim como o Hamas, o Hezbollah não reconhece Israel como estado e busca sua extinção - o que dificulta qualquer tentativa de negociação rumo à paz. E tem outro ponto importante que deve ser levado em conta: o tamanho do grupo libanês. De acordo com informações divulgadas por Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, o grupo possui mais de 100 mil combatentes e reservistas, além de 150 mil foguetes que poderiam dificultar a defesa de Israel caso uma guerra total seja deflagrada.


 

O fato é que tanto o Hamas quanto o Hezbollah tem um “chefe maior” que coordena a atuação deles - o Irã - que tem um interesse claro em eliminar Israel e encontrou uma estratégia de colocar os dois grupos em ação, enquanto o país segue distante fisicamente. A intenção, assim como descreveu Pondé, é que Israel seja “espremida” dos dois lados: no sul, pelo Hamas, e no norte, pelo Hezbollah, até sua extinção.


 

É muito difícil para Israel negociar com dois grupos terroristas que querem a sua aniquilação, ou seja, buscam varrer Israel do mapa. Podemos até conseguir alguns acordos mais incisivos de cessar-fogo, mas alcançar a paz é algo hipotético, justamente pelo fato de que eles não nos reconhecem como estado. Para falarmos sobre paz, é preciso ter igualdade entre todos os grupos.


 

A paz pode até chegar a se tornar realidade entre Israel e Palestina, mas nada apaga as atrocidades cometidas pelo Hamas no dia 07 de outubro. Nós não abrimos mão de ter nossos reféns trazidos de volta para casa, para os braços de seus familiares - eles foram arrancados de seu próprio território de maneira selvagem e cruel. Isso é inegociável, uma questão de honra e por isso não vamos poupar - e não temos poupado - esforços para que isso aconteça.


 

Por isso, a mediação de países que estão atuando nesse conflito - que parece que nunca vai ter fim - é fundamental. É preciso estabelecer um cessar-fogo, após a libertação dos reféns, para que possamos discutir novas estratégias. Só assim conseguiremos avançar alguns passos e garantir a coexistência de todos em um ambiente menos hostil e perverso.


 

*Marcos Knobel é presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp).

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