Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Márcio Saito, CFO da Entrepay
"O Comitê de Política Monetária acaba de divulgar um aumento de 0,25% na taxa de juros. Acredito que essa tendência de elevação da Selic deve continuar até o final do ano, provavelmente até dezembro ou janeiro. Um fator que está pesando bastante nessa trajetória é a desvalorização do real frente ao dólar. Embora tenha havido uma deflação em agosto, seu impacto foi praticamente nulo no cenário atual. O maior prejuízo, sem dúvida, recai sobre o setor produtivo. Com a alta dos juros e a depreciação cambial, as indústrias estão reduzindo seus investimentos, o que enfraquece a competitividade no mercado global. Isso também afeta diretamente a geração de novos empregos, que tende a ficar estagnada."
Felipe Queiroz, Economista-chefe da APAS
"O resultado da decisão do COPOM não surpreendeu o mercado, uma vez que a maior parte dos agentes, sobretudo os representantes do mercado financeiro, já solicitavam a alta da taxa de juros já nesta reunião.
No entanto, apesar de a decisão do COPOM já ser aguardada pelos agentes econômicos, a Associação Paulista de Supermercados (APAS) entende que a atual conjuntura econômica tanto doméstica quanto internacional permitia não apenas a manutenção, mas também a redução da taxa básica de juros. O Brasil, na atual conjuntura, segue numa tendência inversa do cenário internacional. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve optou por reduzir os juros, e na Zona do Euro, as ações de política monetária são de estímulo econômico.
No cenário doméstico, os fundamentos econômicos não justificam esse aumento. Embora a inflação ainda não tenha atingido o centro da meta de 3% ao ano, ela permanece dentro da banda de flutuação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. O aumento da Selic, portanto, impõe um freio à economia brasileira, encarecendo o crédito aos produtores e comerciantes e desestimulando o consumo das famílias, já que o crédito ao consumidor final fica ainda mais caro.
Vale lembrar que o Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, o que agrava ainda mais os desafios ao crescimento econômico do país. Com uma taxa de juros tão elevada, é difícil fomentar o nível de investimento necessário para um crescimento sólido e consistente no médio e longo prazo da economia do país. Na visão da APAS, havia espaço para manter ou até reduzir os juros, e a decisão de elevá-los favorece mais os setores especulativos do que a produção de bens e serviços.
É importante destacar que, no segundo trimestre de 2024, o crescimento econômico foi impulsionado principalmente pelo consumo das famílias. Os investimentos, apesar de estarem se recuperando, ainda estão aquém do necessário. Assim, a APAS acredita que o aumento da Selic tende a prejudicar tanto a produção quanto o comércio, os investimentos e o consumo das famílias, impondo barreiras ao desenvolvimento econômico do país."
Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos
“O COPOM aumentou a taxa de juros em 25 pb, como esperado pela SulAmérica Investimentos e pela maioria do mercado. A alta de juros foi justificada pela deterioração do cenário inflacionário prospectivo, com hiato do produto mais apertado (atividade econômica mais forte) e a inflação mais forte nos últimos dados sendo destacadas no comunicado. O COPOM não deu indicação sobre o que vai fazer na próxima reunião (forward guidance), não dando pistas se deve seguir no ritmo gradual ou acelerar para o ritmo de 50 pb de alta por reunião, apenas que os ajustes futuros e a magnitude total do ciclo dependerão pelo compromisso que eles têm de fazer o necessário para levar a inflação para a meta. Nos parece mais provável que ele deve acelerar na próxima reunião. Assim, ele deixa a porta aberta para qualquer movimento na próxima reunião.”
Paulo Gala, Economista-chefe do Banco Master
“Nenhuma surpresa. Era amplamente esperada essa decisão. O Copom destaca no comunicado que o balanço de riscos está claramente desequilibrado em termos de possível alta de inflação no futuro, com três destaques para cima: na expectativa desancorada, inflação de serviços muito resiliente, câmbio desvalorizado com risco de desvalorização. Para baixo, seria o efeito do juro alto do resto do mundo colocando uma inflação muito baixa, uma desaceleração de atividade muito baixa. A gente tem falado aqui de economia brasileira aquecida. O Copom já coloca hiato de produto positivo. Quer dizer que a economia já começa a operar acima da sua capacidade, e as expectativas de inflação estão completamente fora da meta, para esse ano, e, inclusive, para o ano que vem. Se o Copom não tivesse feito nada, ele basicamente estaria rasgando a meta de inflação. O que ele está dizendo de maneira bem clara é que a meta de inflação é para valer, que ele vai agir. Ele começou esse mini-ciclo, e eu tenho dito que é melhor um mini-ciclo agora do que um maior depois, então, é melhor fazer um movimento agora para tentar moderar e estancar a inflação, e não ter que fazer um choque de juros de verdade lá no futuro levando a Selic a 14%, 15% ou 16%. Claro que a decisão do FED ajuda muito o Brasil. Esse corte de 0.5% do FED que foi surpreendente até certo ponto. Aprecia a moeda brasileira. Com câmbio a R$ 5,40, R$ 5,30, ou R$ 5,20, a vida do BC fica mais fácil. O cenário é muito favorável para que a gente tenha um pequeno ciclo de alta no Brasil, um miniciclo, levando a Selic a, no máximo, 12% na minha visão, que já deve ser o suficiente para deixar a inflação bem perto da meta no começo de 2026. E o Fed, com o corte anunciado e com o DOT plot que ele colocou, deve trazer para baixo de 4%. A mediana está em 3,5%, o que também ajuda muito o Brasil. A gente consegue fazer esse mini-ciclo sem interromper o crescimento ano que vem. É possível imaginar um crescimento de 2% ou 2,5%. E é mais ou menos esse cenário que está dado.”
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