O escândalo envolvendo o ministro dos Direitos Humanos do governo Lula, Sílvio Almeida, não deve ter tanto impacto sobre a popularidade do governo. A economia até que vai bem e é este o governo menos petista de todos os governos do PT. No entanto, o episódio atinge diretamente conceitos filosóficos pós-modernos de identitarismo e do politicamente correto, ocorrendo justamente dentro do núcleo ideológico do governo. Percebe-se uma demora entre a ocorrência dos supostos casos de assédios e a revelação para a imprensa, é como se se esperasse por uma cura, o Sílvio não podia fazer aquilo, estava protegido pela cor da pele.
O talibã universitário que segue os ideais wokes fazem de conta que Freud nunca viveu ou como se todo o desenvolvimento da ciência, biologia e neurociência, não houvesse ocorrido, trata o sujeito humano como mero reflexo das relações sociais, uma das teses de Marx sobre Feuerbach que ocasionou a famosa frase da Simone de Beauvoir sobre o ser mulher como isento dos fatores biológico e psíquico. O assédio sexual seria, assim, somente culpa do patriarcado ou do capitalismo, coisa que o Eric Fromm de certa forma já quis fazer com a psicanálise freudiana; Freud, entretanto, era cético quanto a sociedade: "O indivíduo é o maior inimigo da civilização", dizia.
O indivíduo humano do sexo masculino sente atração pela aparência e pela forma do corpo feminino, está apto a fecundar várias fêmeas num dia, entretanto a civilização não permite que saia a agarrar toda mulher que deseje, então, há um atrito entre civilização e sujeito, para ser social necessita controlar o animal biológico, o que fica difícil de se fazer se se cria uma ilusão de seres unidimensionais e perfeitos por serem de esquerda ou filiados ao PSOL.
A mulher, ao contrário, sente necessidade de acolhimento pelo fator biológico, pode conceber e necessita de proteção. Por outro lado, o social, deve ser conquistada pelo macho, o que torna o seu desejo sexual mais inibido, ainda é raro uma mulher convidar um homem para sair. A sexualidade feminina foi controlada em várias sociedades, tornando-a um tabu, os pacientes de Freud eram quase todos mulheres, vergonha de ter desejo e de sentir prazer.
Freud então defendeu o intercurso sexual livre entre rapazes e moças, como forma de evitar as neuroses. Vivemos hoje no Ocidente num mundo concebido pelas ideias do médico austríaco, que foi o primeiro a levantar os casos de estupros cometidos contra crianças por adultos da convivência no livro A Interpretação dos Sonhos.
Antes do Sílvio, outro intelectual foi implicado em acusações de assédio sexual, o professor português Boaventura de Sousa Santos. Um intelectual pode tender a se colocar como "superior" aos demais indivíduos, além de ser ruim de conquista e displicente quanto as coisas do mundo: "É o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada" (Fernando Pessoa). Pode alisar a perna de uma mulher por que a proibição de fazê-lo é mera restrição de pessoas comuns, os intelectuais e líderes religiosos sofrem mais com os conflitos existenciais.
Esses casos de cancelamento por questões morais não vão render bons frutos, de certa forma são negacionismos científicos. Evidente que não se pode tolerar o assédio sexual a mulheres, mas a abordagem sobre esse assunto deve ser feita de forma condizente com a ciência moderna e não como uma espécie de retorno a obscurantismos sobre desejo sexual e hipocrisias sociais. O que os woke buscam é vingança, afrodescendentes contra europeus, mulheres contra homens, e na verdade, todos são animais humanos idênticos. Se a África tivesse superioridade técnica haveria conquistado a Europa. Astecas sacrificariam alemães se tivessem aviões enquanto os europeus velejavam pelo mar. Se você cria conflitos entre grupos humanos atrasa o progresso da humanidade. Tudo que os colonizadores europeus fizeram no século XVI é um problema moral histórico de toda a humanidade, a escravidão é um problema moral da humanidade, não somente de europeus.
Em todos os lugares, igrejas e universidades, onde se imagina estabelecer uma conduta moral-religiosa ou ético-política absolutamente perfeita por serem membros de um grupo que se julga ótimo a hipocrisia acaba estourando, não existe humano perfeito, existe uma complexa fúria da realidade sobre um ser em conflito.
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