O poeta cearense Patativa do Assaré dizia que o Brasil "continua na cantiga da perua, que é pior, pior, pior". É evidente que, por ter sido constituído como um país de caricaturas, algumas coisas melhoraram, como o controle de doenças, mas... sempre há algo que pode piorar.
No clássico da sociologia brasileira Coronelismo, Enxada e Voto, Victor Nunes Leal demonstra como a política patrimonialista — descrita também por Raymundo Faoro em Os Donos do Poder — tornava o chefe político local responsável por qualquer melhoria ocorrida nas cidades brasileiras, perpetuando assim o seu domínio.
Houve um esforço para barrar as práticas patrimonialistas, como a criação de um rigoroso estatuto dos servidores públicos e a Constituição de 1988, que proíbe a publicidade personalista em veículos oficiais — prefeitos costumavam, por exemplo, pintar prédios públicos com suas cores partidárias. No entanto, o que se deteriorou foram as emendas parlamentares, que, desde 2013, com o chamado Orçamento Impositivo, e depois com o escândalo do Orçamento Secreto, se tornaram ainda mais problemáticas.
Com tantas emendas, seria necessário abolir a reeleição em todos os âmbitos do poder, caso contrário, um deputado ou senador jamais será derrotado, e, nas eleições em que prefeitos disputam a reeleição, teremos candidaturas únicas na maioria das cidades do interior.
O orçamento público foi praticamente privatizado em meio ao seu engessamento quase total, deixando o país sem margem para realizar investimentos, especialmente em áreas críticas como a educação, que não foi sequer parcialmente resolvida. Que políticas públicas serão formuladas para a educação? Construir creches sem recursos para pagar professores? Construir escolas com dinheiro de emenda, mas sem pessoal adequado para gerir as instituições?



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