*Por Celso Tracco
Após o fracasso econômico dos países socialistas no final do século XX, o predomínio do pensamento capitalista, preconizado pelo Ocidente, tornou-se mundialmente dominante. Com raríssimas exceções, o capitalismo, seja classificado como neoliberal, seja controlado pelo Estado ou ainda dito humanista, rege o modo de vida da nossa sociedade.
No final do dia, a acumulação de riqueza, a busca pelo lucro, a força do poder econômico, a lei do mais forte, privilegia o dinheiro em detrimento do ser humano, do seu bem-estar social. Este tipo de sistema econômico traz em seu bojo uma imensa desigualdade social que cresce a cada ano. No mundo todo, bilhões de seres humanos estão condenados a viver em um deserto imaginário, onde as condições de vida são precárias, desumanas, implacáveis e apenas os mais adaptados conseguem sobreviver. Mas eis que surgem alguns indivíduos que, por conta, própria promovem ações que visam ao menos minorar as enormes dificuldades dos que vivem no “deserto”. Eles estão criando “pequenos, mas floridos oásis”.
Meu primeiro exemplo vem do Brasil: o professor @Stelio Marras, que recebeu como herança de família um prédio comercial avaliado em R$ 25 milhões. Por iniciativa própria, ele doou este bem ao Fundo Patrimonial da USP, com a cláusula contratual que o que for arrecadado com a exploração imobiliária deve ser aplicado para ajudar estudantes de baixa renda. Diz o professor: “Viver como um milionário é dar as costas para a sociedade e para o ambiente, e Deus me livre viver numa ilha milionária, cercada por um mar de pobreza e miséria. Não caberia na minha cabeça, na minha alma, fazer algo diferente. O mundo é muito desigual, e o Brasil, como sabemos, é campeão nesse quesito”. (Correio Braziliense 07/07/2024)
Meu segundo exemplo de formadores de oásis vem da Áustria: Marlene Engelhorn, uma austríaca de 31 anos que decidiu doar 90% de sua herança, cerca de 25 milhões de euros. A herança veio com a morte de sua avó, acionista da multinacional alemã BASF. Argumenta Marlene: “Herdei uma fortuna, sem ter feito nada para isso. E o Estado nem quer impostos sobre isso. Se os políticos não fazem o seu trabalho, e não redistribuem a renda, eu mesma redistribuirei a minha riqueza”. A Áustria não cobra impostos sobre heranças. 50 pessoas serão selecionadas de um universo de 10.000 cidadãos austríacos, escolhidos aleatoriamente, não importando idade (são maiores de 16 anos), sexo, gênero, etnia ou classe social. Os 50 contemplados serão escolhidos por uma comissão independente, que não terá nenhuma influência da herdeira. (BBC 12/01/2024)
Por último o exemplo de Bill Gates. Bill e sua ex-esposa, Melinda tiveram 3 filhos. Cada filho terá direito a “apenas” US$ 10 milhões, cerca de 0,02% da herança, o restante ficará com a Fundação Bill e Melinda Gates, criada em 2000 pelo casal que tem como objetivo combater as mortes infantis causadas por doenças como pneumonia, diarreia, pólio e outras. A Fundação atua em mais de 130 países e colabora com as áreas de igualdade de gênero, crescimento, desenvolvimento global e saúde. (Tudo Celular 21/02/2024)
Estes são apenas alguns exemplos de destaque na mídia. Certamente existem outros milhões de pessoas neste mundo dilacerado por guerras, discórdia, notícias falsas, ambições, assassinatos, drogas, exploração de menores e outras calamidades, que estão promovendo uma justiça social. Estes seres iluminados não se deixam levar pela ganância e pelo acúmulo de riqueza, mesmo que, por lei, tenham direito a ela. Ao contrário, distribuem, ao seu modo, sem um padrão definido, mas com o objetivo final de proporcionar alguma dignidade a seres humanos que jamais poderão retribuir aos seus doadores. Esta é a definição do verdadeiro Amor, sem esperar recompensas para si próprio. Que nos sirvam como exemplos. Penso que apenas a legítima solidariedade entre os humanos poderá salvar a espécie de sua propalada extinção.
*Celso Tracco: escritor, economista, teólogo e palestrante.


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