Juiz do STF, Luiz Fux, determinou que governo impeça utilização de recursos do benefício em jogos e apostas
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
O juiz Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, na noite desta terça-feira (12), que o Governo Federal adote medidas de “proteção especial” para evitar que beneficiários do Bolsa Família utilizem os recursos do programa para apostar em plataformas de apostas online, conhecidas como “bets”.
A decisão versa sobre “medidas imediatas de proteção especial que impeçam a participação nas apostas de quota fixa com recursos provenientes de programas sociais e assistenciais como o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e congêneres, até a conclusão do julgamento de mérito das referidas Ações Diretas de Inconstitucionalidade”.
Para Gustavo Biglia, sócio do Ambiel Advogados e especialista em Regulamentação de Jogos e Apostas, a posição do STF é “positiva e saudável”, porque evita que o próprio dinheiro que o governo destina para que as famílias de baixa renda tenham um pouco mais de dignidade para viver seja utilizado por um fim diverso do propósito do programa.
“No entanto, é preciso ressaltar que o governo está tão preocupado com as bets que se esquece de que existem outros tipos de vícios e problemas que podem ser utilizados dos recursos advindos do Bolsa Família, mas não são comentados. Exemplo simples é no próprio cenário de jogos: em nenhum momento, o Governo Federal veda o cidadão em pegar o dinheiro do Bolsa Família e apostar nas loterias ou na Mega Sena. Cigarro e bebida alcoólica também não são vedados. Por quê?”, questiona o advogado.
Outro ponto destacado pelo especialista é de que, mesmo com a medida, poderão haver brechas na fiscalização por parte do Governo Federal. “Vai ser muito difícil de fiscalizar, porque o cidadão pode pegar o dinheiro do Bolsa Família, repassar para uma pessoa que não está recebendo o benefício e pedir para apostar. Como é que será possível coibir? Como é que possível restringir esse tipo de aposta? Fica muito difícil o controle”, complementa Biglia, que reforça que o STF está analisando um tema que é de responsabilidade do Congresso.
Especialista em Jogo Responsável, Felipe Crisafulli enxerga, na decisão do STF, um problema de constitucionalidade, legalidade e juridicidade. "O Bolsa Família, segundo a própria lei que o instituiu, é um programa de transferência direta e condicionada de renda. As condicionalidades constam do art. 10, e nenhuma delas parece justificar, direta ou indiretamente, a decisão do juiz Fux, de proibir o uso de tais valores para fins de apostas de quota fixa”, argumenta o advogado e também sócio do Ambiel Advogados.
“Além disso, o art. 3º da Lei do Bolsa Família estabelece que um dos objetivos do programa é o ‘respeito à privacidade das famílias beneficiárias’, inclusive para fins da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Assim, fica a pergunta: em que medida esse respeito se dará, se a vedação ao uso de tais recursos estará, obrigatoriamente, vinculada à pessoa em específico, isto é, ao beneficiário do programa?", indaga Crisafulli.
Especialista em Meios de Pagamento do Barcellos Tucunduva Advogados, o advogado Luiz Felipe Attié destaca alguns pontos sobre a ação da PGR para solicitar suspensão das Bets e a audiência pública realizada pelo juiz Luiz Fux, do STF. “As regulações para atividades como as apostas esportivas transcendem o Judiciário, envolvendo diversos setores da sociedade civil. A possível inconstitucionalidade ou revogação da lei das bets traria grandes prejuízos para operadores que já investiram no mercado brasileiro, e não impediria presumidamente que esse tipo de entretenimento continuasse a ser uma presença no cotidiano nacional. Assim, espera-se que as autoridades mantenham um diálogo aberto com os operadores e que eventuais impasses sejam contornados e incorporados à regulação como aprimoramentos, considerando que a proibição pode não representar uma solução para as questões levantadas nas ADIs”, complementa.
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