Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
A vitória de Donald Trump marca um retorno polêmico à Casa Branca e revela o crescente descontentamento com o governo de Joe Biden, especialmente em questões econômicas e de segurança. Mesmo enfrentando uma forte rejeição, Trump conseguiu mobilizar eleitores desiludidos, incluindo simpatizantes de Kamala Harris, insatisfeitos com a falta de resultados da administração do democrata.
A economia americana, sob a gestão Biden, experimentou uma inflação elevada, algo incomum e perturbador para uma sociedade acostumada a longos períodos de estabilidade de preços.
Ao mesmo tempo, o país viu sua influência global ser minada pela ascensão da China e enfrentou um aumento na criminalidade urbana, o que levou ao fechamento de diversas lojas de varejo, especialmente na costa oeste.
Economia em crise e insatisfação popular
Durante o governo Biden, a inflação nos Estados Unidos atingiu níveis que não eram vistos há décadas, corroendo o poder de compra dos americanos. A falta de uma resposta eficaz para conter o aumento dos preços intensificou o sentimento de insegurança econômica, afetando não apenas a classe trabalhadora, mas também a confiança da classe média. Essa crise de custo de vida fez com que muitos eleitores buscassem alternativas políticas capazes de oferecer soluções diretas e tangíveis para a economia, algo que Trump prometeu em sua campanha.
Sua retórica de “retomada econômica” e “priorização dos interesses americanos” ressoou profundamente entre aqueles que sentiram os efeitos da inflação em seu cotidiano.
Declínio do protagonismo global dos EUA
No cenário internacional, a administração Biden enfrentou desafios para manter a hegemonia norte-americana. Enquanto o país estava focado em problemas internos, a China aproveitou para expandir sua influência global, firmando novos acordos bilaterais e fortalecendo laços comerciais estratégicos.
Esse avanço chinês, em contraste com a aparente inércia dos EUA, reforçou a percepção de que o país estava perdendo relevância. Para muitos americanos, essa perda de protagonismo foi um golpe no orgulho nacional e gerou a sensação de que os EUA estavam ficando para trás na disputa global.
Trump, durante a campanha, explorou esse sentimento, prometendo políticas de comércio e segurança que restaurariam a posição de liderança dos EUA no mundo. Sua visão de “America First” resgatou o apoio daqueles que acreditam que o país precisa de uma abordagem mais assertiva e competitiva para retomar sua influência global.
Insegurança urbana e o colapso do varejo
Além dos problemas econômicos e internacionais, a segurança tornou-se um tema central nas cidades americanas. A costa oeste dos EUA, em especial, viu um aumento significativo nos crimes de furto e arrastão em lojas de varejo. Esse fenômeno, aliado ao fechamento de estabelecimentos comerciais, criou uma crise de confiança e alimentou o discurso de que o governo Biden estava falhando em manter a ordem nas cidades. Para Trump, esse cenário representou uma oportunidade para prometer uma resposta mais forte contra a criminalidade, abordando a insegurança urbana com políticas de segurança pública mais rigorosas e prometendo proteger comerciantes e trabalhadores.
Os desafios para o novo mandato de Trump
Ao reassumir a presidência, Trump enfrenta um país dividido e com uma série de desafios críticos. Ele precisará focar na estabilização da economia, com prioridade para a redução da inflação, e buscar uma resposta mais firme à competição global com a China. No cenário interno, o presidente promete restaurar a ordem nas cidades e oferecer políticas de segurança que tranquilizem a população e incentivem o comércio. No entanto, o grande desafio será equilibrar uma postura firme, que atenda à demanda por segurança e recuperação econômica, com a necessidade de promover uma coesão nacional, algo essencial em uma sociedade profundamente polarizada.
O retorno de Trump e o futuro dos EUA
A eleição de Trump representa, em muitos aspectos, uma resposta à frustração dos americanos com o presente e uma tentativa de recuperar o poder e a estabilidade do passado. Ele terá que mostrar que suas promessas de campanha podem ser traduzidas em ações concretas, enfrentando problemas econômicos internos e a competição global de maneira eficaz. Ao mesmo tempo, precisará trabalhar para unir uma nação que se encontra dividida e ansiosa por uma liderança que inspire confiança.
O retorno de Trump ao poder sinaliza que muitos americanos ainda acreditam na sua capacidade de trazer as mudanças necessárias. Contudo, em um cenário cada vez mais complexo e desafiador, será a eficácia de suas políticas, e não apenas a retórica, que determinará o sucesso de seu governo. Os próximos anos serão decisivos para o futuro dos EUA, com desafios que vão muito além das promessas de campanha e que exigirão uma liderança verdadeiramente resiliente e pragmática.
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