Depois de meses de secura, calor e promessas de soluções mágicas, a ilustre empresa Caicó Eventos S/A, outrora conhecida como Prefeitura Municipal, finalmente transformou o céu de chumbo em espetáculo pirotécnico aquático. Às seis horas da noite desta terça-feira (03), deu-se o milagre: uma chuva parcimoniosa, digna de aplausos e selfies, caiu sobre a cidade. A população, com um misto de gratidão e nariz torcido, celebrou a oportunidade de ver a poeira ser apagada, ainda que ao preço de uma efervescente catinga dos esgotos que, como todos sabem, brotam aqui com mais vigor que qualquer nascente do Seridó.
Para coroar o evento, a Caicó Eventos, em sua sabedoria administrativa, conseguiu uma emenda parlamentar para contratar a banda Cipó de Boi, célebre por animar festas de batizado e puxar trios elétricos em tempos mais úmidos. Os músicos, devidamente equipados com capas de chuva, subiram ao palco e entoaram clássicos como "Seca e Solidão" e "Chove na minha Lavra, Senhor". Segundo fontes seguras, a verba foi suficiente para pagar tanto a banda quanto as quatro nuvens que vieram de passagem, apressadas em rumo ao sertão vizinho.
O jornal imparcial Caicó em Foco, sempre atento, destacou que esta chuva, ainda que breve e ligeiramente ácida, era aguardada há quarenta anos. Algumas fontes sugerem que, nesse tempo, a população rezou por água, mas recebeu, em troca, promessas, discursos e agora um espetáculo aquático corporativo. “Choveu, e isso é o que importa!”, bradou uma senhora na praça, enquanto torcia um vestido ensopado. Já outro cidadão, protegido por um guarda-chuva verde e amarelo, resmungava que a chuva parecia pouco para tanto alarde.
Os mais cínicos, no entanto, apontam que, ao término da festa, a cidade acordará no mesmo estado de sempre: poeira nos olhos, lama nos pés e, agora, um cheiro insuspeito que, segundo rumores, será tema de uma nova emenda futura: a contratação de aromatizadores para toda a cidade. Como dizia um velho provérbio local, "quando a chuva vem do bolso, só molha a quem interessa".
**o texto é uma sátira**


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