Dizia Benjamin Franklin que só duas coisas na vida são certas: a morte e os impostos. Graciliano Ramos, em sua prosa austera, completou, com a precisão de quem conhece nossas agruras: a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano. E foi com essa mistura de fatalismo e festa que Caicó, a cidade nunca limpa, deu mais um passo ousado rumo ao estrelato municipal.
Na última segunda-feira (02), a Câmara Municipal, em reunião calorosa e regada a cafezinhos sem açúcar, aprovou a tão aguardada taxa do lixo. Não se sabe se por convicção ou cansaço, mas os vereadores ergueram suas mãos para endossar a novidade. Afinal, em terra de sacos plásticos ao vento, quem paga leva — ainda que o caminhão, de tempos em tempos, resolva não levar nada.
Os caminhões de coleta, ah, esses personagens icônicos da vida urbana! Ora aparecem bufando e roncando pelas ruas, ora somem como fantasmas. Dizem as más línguas que os veículos, quando não estão no prego, estão nas mãos da PRF, detidos por razões tão misteriosas quanto as causas das grandes tragédias gregas.
Foi aí que entrou em cena a Caicó Eventos S/A, a heroína moderna de nossa história. Empresa de eventos e soluções criativas (antiga Prefeitura Municipal, para os mais saudosistas), ela não tardou em trazer um toque de gênio à questão: se o lixo é inevitável e o carnaval também, por que não unir o útil ao alegre? Assim, determinou-se que a coleta seria feita em trios elétricos.
Imaginem a novidade. Ao som de clássicos como "Chiclete com Lixo" e "Garrafas e Confetes", os trios desfilarão pelas ruas esburacadas, transformando a coleta em um espetáculo de cores e sons. Os moradores, embalados pela batida do axé, lançarão seus sacos de lixo em movimentos coreografados, enquanto os garis, agora promovidos a artistas performáticos, farão sua parte com elegância carnavalesca.
“É uma inovação que só Caicó poderia oferecer ao mundo”, declarou o presidente da Câmara, visivelmente emocionado. “Transformaremos o lixo em cultura e a cultura em atração turística. Já estamos em contato com o Guinness para registrar o maior desfile de resíduos do planeta.”
Alguns moradores mais sérios, aqueles que ainda se atrevem a levar as coisas ao pé da letra, questionaram: e a separação dos recicláveis? “Ah, isso será feito com a alegria do povo”, respondeu um funcionário da Caicó Eventos S/A, sorrindo. “Quando o coração samba, as mãos também dançam.”
Enquanto isso, a poeira, velha companheira das calçadas e dos sapatos, espera ansiosa por sua vez de ser celebrada. Quem sabe, no próximo ano, ela também ganhe sua própria taxa e desfile no bloco dos esquecidos. Afinal, em Caicó, a única sujeira que não se varre para debaixo do tapete é a falta de imaginação.
**o texto é uma sátira**
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