Se a burrice fosse artigo de exportação, o Brasil já teria equilibrado sua balança comercial. Mas, não, preferimos consumi-la aqui mesmo, em doses generosas, como quem saboreia um bom café — quente, amargo e inevitável. Que me perdoem os patriotas e os santos, mas neste país de sol, samba e sinecuras, a última descoberta dos prefeitos é uma fórmula infalível para “desenvolver” suas cidades: construir estátuas de santos.
E não falo de estatuetas modestas, postas à beira de estradas poeirentas, não. São colossos de concreto, braços abertos ao milagre, abençoando do alto quem passa lá embaixo, quase sempre em busca de emprego ou fugindo do IPTU. Santo que é santo agora não cura mais feridas, não consola os aflitos: atrai turistas. E o turismo, dizem os senhores prefeitos, é a redenção do município, o novo maná que há de cair do céu — ou das agências de viagem.
Enquanto isso, as escolas minguam. Ah, mas para que escolas, se a fé move montanhas? Não seria razoável que movesse também as massas em direção à prosperidade? Ora, a criança que não sabe somar ao menos sabe rezar, e isso, em terras tropicais, é quase o mesmo que passar de ano.
E assim segue o Brasil: ora as pessoas se aglomeram aos pés de uma estátua, em busca de um milagre para o fígado, ora correm atrás de caminhões nas micaretas. De estatística em estatística, o SUS se esgota, o povo se indigna, e os políticos, esses, erguem mais um santo no horizonte, porque, afinal, a fé não costuma falhar.
Eis que me pergunto: se o turismo das estátuas se consolidar, quem há de olhar para os professores? Os mestres, coitados, ainda não entenderam que no Brasil só se reverencia quem está bem acima, de preferência em pedestal. A burrice, essa fiel companheira, talvez seja nosso único patrimônio nacional inabalável — uma riqueza que não precisa de estátua, porque já habita o espírito da nação.
E assim vamos, como quem não vai, com a benção dos santos e a burra dos prefeitos.
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