Combinando ciência, dados e experiências reais, material lançado pelo LIRA/IPÊ - Legado Integrado da região Amazônica, aborda os desafios enfrentados por Unidades de Conservação e Terras Indígenas e oferece caminhos práticos para torná-las mais eficazes e resilientes.
Foto: Divulgação / Adobe Stock.
Como proteger uma floresta que regula o clima global, abriga 10% das espécies conhecidas no planeta e sustenta comunidades que dependem dela para sobreviver? A Amazônia, fundamental para o equilíbrio ambiental, enfrenta pressões cada vez mais intensas, como o desmatamento, a expansão agrícola e as mudanças climáticas. Embora áreas protegidas, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, sejam reconhecidas como barreiras eficazes contra a degradação, sua eficiência depende de estratégias bem planejadas de gestão e recursos adequados.
É nesse contexto que surge a Série Técnica “Ferramentas de avaliação da efetividade de áreas protegidas”, uma publicação que reúne anos de trabalho do LIRA/IPÊ (Legado Integrado da Região Amazônica, do Instituto de Pesquisas Ecológicas). O material apresenta soluções práticas baseadas em ciência, dados e experiências no campo para fortalecer a gestão de 59 áreas protegidas, que juntas abrangem 58 milhões de hectares da floresta amazônica. “Com essa publicação, buscamos compartilhar aprendizados e experiências dos projetos que desenvolvemos na Amazônia, oferecendo ferramentas que estimulem o diálogo entre gestores públicos, organizações da sociedade civil e outros setores. Nosso objetivo é fortalecer a conservação da biodiversidade e apoiar as comunidades que dependem diretamente da floresta”, explica Fabiana Prado, gerente do LIRA/IPÊ.
Áreas protegidas: a primeira linha de defesa
Territórios protegidos desempenham um papel central na conservação da Amazônia. Uma análise recente do MapBiomas revelou que 88% do desmatamento ocorrido na Amazônia em 2022 aconteceu fora de áreas protegidas, reforçando sua importância como barreiras contra a degradação. Contudo, para que cumpram sua função, essas áreas precisam de uma gestão eficaz, que combine planejamento estratégico, proteção e fiscalização, governança e apoio às comunidades locais. “Terras indígenas e Unidades de Conservação são muito mais do que limites territoriais. Elas são espaços de proteção ambiental e de fortalecimento cultural. Mas, para funcionarem, precisam de recursos, monitoramento e decisões baseadas em evidências”, afirma Letícia Lopes, analista do LIRA/IPÊ.
Além disso, povos indígenas e comunidades tradicionais são aliados indispensáveis na conservação. Com seu conhecimento profundo sobre a floresta e suas dinâmicas, eles contribuem para estratégias de manejo a partir de seus saberes tradicionais. O desafio está em garantir que tenham voz ativa nas decisões e acesso aos recursos necessários para atuar como guardiões dessas áreas, e na integração desses saberes aos técnicos e científicos.
Ferramentas práticas para enfrentar desafios
A publicação apresenta ferramentas como o SAMGe (Sistema de Avaliação e Monitoramento de Gestão), que permite mapear recursos e valores dessas áreas, e pressões, como desmatamento e atividades ilegais, e priorizar esforços em áreas de maior risco. Esse tipo de abordagem torna possível alocar recursos de forma mais eficiente, fortalecendo a resiliência dessas áreas frente às pressões externas.
O financiamento, por sua vez, continua sendo um dos maiores desafios. Durante as Conferências das Partes (COP, na sigla em inglês para Conference of the Parties), como a COP16, focada na biodiversidade, e a COP29, dedicada às mudanças climáticas, uma das principais discussões foi a necessidade de mobilizar mais recursos para proteger ecossistemas críticos, como a Amazônia. Porém, como destaca a Série Técnica, o importante é que esses recursos sejam acompanhados de estratégias claras, como planejamento integrado e monitoramento contínuo. “A boa gestão vai além de conter ameaças. Trata-se de potencializar os benefícios dessas áreas para a biodiversidade, o clima e as comunidades. É isso que buscamos traduzir nesta publicação”, diz Angela Pellin, assessora de monitoramento e avaliação do LIRA/IPÊ.
Um modelo para o futuro da conservação
A Série Técnica reflete não apenas os desafios, mas também as possibilidades concretas de proteção da Amazônia. Combinando ferramentas de gestão, dados robustos e o envolvimento direto das comunidades locais, ela aponta caminhos para tornar as áreas protegidas mais resilientes e eficazes, mesmo em cenários de pressão intensa.
As lições aprendidas pelo LIRA/IPÊ são aplicáveis a outras regiões, biomas e programas de conservação mostrando que é possível equilibrar conservação ambiental com desenvolvimento humano e econômico. Estratégias como o uso de tecnologias para monitoramento, o fortalecimento das redes comunitárias e a integração entre ciência e conhecimento tradicional formam a base de um modelo que pode inspirar gestores e organizações no Brasil e no mundo. “A Amazônia não é apenas uma prioridade local. É um ativo global. Proteger a floresta significa garantir o futuro das pessoas que dependem dela e contribuir para a estabilidade climática do planeta”, diz Ângela.
“Além disso, a Série Técnica reforça a importância de agir com urgência. Com metas globais de biodiversidade e clima já definidas, como as discutidas nas COPs, o momento exige que governos, empresas e sociedade civil se unam para ampliar investimentos, melhorar políticas públicas e fortalecer as áreas protegidas, que continuam sendo a primeira linha de defesa contra a degradação ambiental”, afirma Fabiana.
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