Nesta época do ano, em que as almas oscilam entre a tristeza e a esperança, o brasileiro encontra-se diante de um dilema peculiar. É o tempo das luzes artificiais, das árvores sintéticas e dos sonhos adiados. O homem bem-sucedido, no Brasil, não é aquele que ostenta cifras, mas aquele que, de peito erguido, ousa não ser burro.
Sim, caro leitor, aqui o sucesso tem outro nome. Não se mede por iates nem por palacetes à beira-mar. Mede-se pela capacidade de escapar das armadilhas do vulgar. Se nunca fizestes parte do bloco “caça-cabaço” ou não te consumistes na maratona insana atrás de um trio elétrico, não lamentes a melancolia natalina. És bem-sucedido.
A miséria deste país não está apenas na carência de pão, mas também na ausência de pensamento. Os pobres, consumidos pela inveja, sonham com o que não têm; os ricos, embriagados pela prepotência, ignoram o que possuem. É uma pátria onde a cultura dos abastados limita-se a aspirar pó de cocaína e protagonizar orgias em mansões à beira de praias degradadas pela hipocrisia.
Entretanto, há exceções. Se lestes, por ventura, dez livros clássicos neste ano de 2024 – um feito hercúleo em um país de pensamento rasteiro – não és apenas culto: és um milionário do espírito. Cada página virada é um patrimônio imaterial que te eleva acima da mediocridade reinante.
O verdadeiro homem bem-sucedido no Brasil é aquele que, cercado de vulgaridade, insiste em pensar. E este pensar, nesta terra de sonhos abafados, já é um ato revolucionário.
Como não poderia deixar de ser, encerro com a lição de um mestre: “Ao vencedor, as batatas.” Mas aqui, talvez, o verdadeiro prêmio seja outro: ao bem-sucedido, os livros.
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