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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Da poeta para a atriz

Getty Imagens


O triunfo de Fernanda Torres no Globo de Ouro fez o Brasil experimentar uma rara e efêmera vertigem de glória. Não se trata de futebol, nem de Fórmula 1 – os dois palcos onde o gênio nacional parece tolerar a própria grandeza. 


O cinema brasileiro, até então, parecia conformado com sua vocação para estereotipar o país ou exaltar derrotas. Mas quem sabe este instante de apoteose sirva para sacudir as ideias, para nos ensinar a viver no presente, sem o subterfúgio de sonhar sempre com um futuro que nunca chega?


A poeta Constância Uchôa, movida pelo ardor deste feito, enviou-nos um poema em que reverencia o feito de Fernanda, enquanto rememora as dores e as cicatrizes que marcam nossa história.


AINDA ESTOU AQUI, BRASIL


Por Constância Uchôa


História para o país,

Fernanda Torres quem fez;

Olhem que do mesmo mês

Guardamos a cicatriz.

Nossa Nação hoje diz:

"Salvem a democracia,"

Porque toda artilharia,

Traz um oito apontado...

Que ontem foi sepultado

Nas valas da tirania.


Aquela cena de Eunice,

Esfregando a própria pele;

Parece que em mim expele

O que sua voz não disse!

Fora uma dor de mesmice:

Dos gemidos nas torturas,

Exausta pelas procuras,

Mendigava sempre crível,

Como se fosse possível,

Higienizar ditaduras.

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