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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Inundações e secas em 2024 mostram perturbação do ciclo global da água

O aquecimento global está intensificando o ciclo da água, como evidenciam as inundações extremas e as secas severas registradas em 2024, mais um ano de temperaturas recordes, de acordo com o relatório Global Water Monitor, divulgado hoje.

Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil


O estudo, conduzido por uma equipe internacional de pesquisadores liderada pelo professor Albert Van Dijk, da Universidade Nacional da Austrália (ANU), utilizou dados de milhares de estações terrestres e satélites. Segundo comunicado da universidade, as tecnologias forneceram informações quase em tempo real sobre variáveis hídricas essenciais, como precipitação, umidade do solo, fluxo de rios e ocorrência de inundações.


“Estamos observando recordes de precipitação sendo quebrados com frequência crescente. Por exemplo, os recordes de precipitação mensal em 2024 ocorreram 27% mais frequentemente do que no início do século, enquanto os recordes diários foram 52% mais comuns. Já os recordes de falta de chuva aumentaram 38% no mesmo período”, explicou Van Dijk.


Meio planeta enfrentou o ano mais quente da história

Em 2024, aproximadamente 4 bilhões de pessoas em 111 países — metade da população mundial — vivenciaram seu ano mais quente já registrado. A temperatura média global foi 1,2°C mais alta que no início do século e cerca de 2,2°C acima dos níveis pré-industriais.


Este foi o quarto ano consecutivo com recordes de aquecimento global. Eventos climáticos extremos relacionados à água, como inundações, secas, ciclones tropicais e deslizamentos de terra, resultaram em mais de 8.700 mortes, deslocaram 40 milhões de pessoas e causaram prejuízos superiores a 550 bilhões de dólares.


“As temperaturas mais elevadas da superfície dos oceanos intensificaram ciclones tropicais e secas em regiões como a Bacia Amazônica e o sul da África. O aquecimento global também intensificou chuvas e tempestades, provocando enchentes devastadoras na Europa, Ásia e Brasil”, afirmou Van Dijk.


Impactos severos no Brasil e no mundo

No Brasil, inundações catastróficas deixaram mais de 80 mortos, enquanto na China, os rios Yangtzé e das Pérolas transbordaram, forçando a evacuação de milhares de pessoas e causando enormes prejuízos agrícolas. No Afeganistão e Paquistão, chuvas torrenciais resultaram em cheias que mataram mais de mil pessoas.


Em agosto, Bangladesh sofreu inundações generalizadas causadas por monções intensas e rompimento de barragens, afetando 5,8 milhões de pessoas e destruindo mais de um milhão de toneladas de arroz. Já em outubro, tempestades na região de Valência, na Espanha, causaram mais de 200 mortes.


Enquanto algumas regiões enfrentaram enchentes, outras sofreram com secas devastadoras. Na Bacia Amazônica, rios atingiram níveis criticamente baixos, interrompendo o transporte fluvial e a produção de energia hidroelétrica. Além disso, incêndios florestais, intensificados pela seca, devastaram mais de 52 mil quilômetros quadrados, liberando grandes quantidades de gases de efeito estufa.


No sul da África, a seca reduziu a produção de milho a menos da metade, deixando 30 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. A escassez hídrica também forçou o abate de gado e provocou apagões generalizados devido à queda na geração de energia.


Preparação e adaptação são essenciais

Van Dijk alerta para a necessidade de adaptação diante de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos. “Precisamos fortalecer as defesas contra inundações, investir em sistemas de produção de alimentos e abastecimento de água resilientes à seca, além de melhorar os sistemas de alerta precoce”, destacou.


O relatório Global Water Monitor foi produzido em colaboração com diversas instituições públicas e privadas ao redor do mundo, reforçando a importância da cooperação internacional no enfrentamento da crise climática e hídrica. “A água é o recurso mais essencial que temos, e as ameaças de enchentes e secas estão entre os maiores desafios que enfrentamos”, concluiu Van Dijk.

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