Em plena crise fiscal e social, a Câmara Municipal de Caicó repete um padrão que deveria escandalizar a população: o uso sistemático de recursos públicos para o pagamento de diárias em viagens supostamente institucionais. De acordo com dados oficiais da própria Casa Legislativa, mais de R$ 116 mil já foram gastos apenas nos primeiros três meses de 2025 — um valor alarmante considerando a escassez de investimentos reais em educação, saúde e infraestrutura no município.
Entre os destinos mais frequentes, João Pessoa (PB) lidera com folga, sendo palco de encontros e capacitações que se repetem com nomes e formatos similares: "Capacitação de Agentes Públicos do Nordeste", "Curso de Conhecimentos Integrados", "Encontro de Administração Pública", entre outros. Só o vereador Francisco Fábio de Araújo, por exemplo, participou da 8ª e 49ª edições desses cursos em menos de dois meses, recebendo ao todo R$ 8.000,00 em diárias.
Revezamento de políticos em cursos duvidosos
Os cursos parecem funcionar como um ciclo constante, com edições consecutivas realizadas quase semanalmente. Em março, vereadores como José Antônio da Silva, Rosângela Maria da Silva, Renato Saldanha e Anderson Clayton Duarte estiveram simultaneamente no 72º Encontro de Administração Pública Municipal, todos em João Pessoa, recebendo R$ 4.000,00 cada em apenas quatro dias.
Enquanto isso, assessores parlamentares também embarcaram na onda. João Paulo Medeiros e Emanuell Diego Pinheiro, por exemplo, acumularam R$ 4.800,00 em diárias cada um apenas nos meses de fevereiro e março.
Justificativas vagas e agenda repetitiva
Outro ponto crítico é a falta de detalhamento nas justificativas. Muitas viagens são descritas apenas como “participação em curso” ou “tratativas com órgãos estaduais”, sem comprovação de resultados práticos ou prestação de contas. O cenário revela um modus operandi no qual os mandatos são usados como passaporte para viagens constantes com dinheiro público.
Além dos cursos em João Pessoa, há intensa movimentação para Natal (RN). As viagens envolvem visitas a gabinetes parlamentares, reuniões com secretarias estaduais e encontros com órgãos como a FECAM, CAERN e CRMV. Embora alguns desses compromissos tenham potencial institucional, a frequência e o alto custo — R$ 800,00 por diária — levantam suspeitas sobre a real efetividade desses deslocamentos.
Falta de controle e fiscalização
O documento oficial que compila essas despesas não apresenta qualquer filtro de controle de produtividade ou critérios objetivos para a liberação das diárias. Também não há relatórios públicos que demonstrem como os conhecimentos adquiridos nos tais cursos foram aplicados em benefício da população caicoense.
Para o cidadão comum, o resultado é claro: vereadores e assessores acumulando viagens e diárias, enquanto o município enfrenta problemas sérios como estradas esburacadas, escolas com déficit de merenda e unidades básicas de saúde sem insumos.



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