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terça-feira, 8 de abril de 2025

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Metade das vítimas de mortes violentas entre 2022 e 2024 usaram psicoativos

Henrique Silva Bombana comenta relatório do Projeto Tânatos, resultado de parceria da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativo com o Grupo de Estudos em Álcool, Drogas e Violência da Faculdade de Medicina da USP

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As substâncias psicoativas são compostos naturais ou sintéticos que atuam no sistema nervoso e alteram o seu funcionamento, podendo trazer mudanças nos pensamentos – Foto: Freepik/IA


Jornal USP - As substâncias psicoativas são um problema para a saúde e a segurança pública, segundo relatório do Projeto Tânatos. A iniciativa é fruto de um convênio entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP), e o Grupo de Estudos em Álcool, Drogas e Violência da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Foram analisadas 4.174 amostras de sangue post mortem, ou seja, posteriores ao falecimento, de casos de mortes violentas (2.430 homicídios, 524 sinistros viários, 330 suicídios, 52 intoxicações exógenas, 264 de outras causas e 601 indeterminadas) entre 2022 e 2024. 


De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), as substâncias psicoativas são compostos naturais ou sintéticos que atuam no sistema nervoso e alteram o seu funcionamento, podendo trazer mudanças nos pensamentos, emoções e nos comportamentos do indivíduo. Henrique Silva Bombana, biomédico toxicologista, membro do Grupo de Estudos em Álcool, Drogas e Violência da FMUSP e um dos responsáveis pelo Projeto Tânatos, relata os dados encontrados no estudo: “50% das vítimas tinham consumido pelo menos uma substância antes da morte. […] A cocaína foi usada por 26,7% das pessoas e o álcool por 26,2%, mas o que nos chamou bastante a atenção foi o uso expressivo de cocaína”. 


Outros compostos também foram visualizados na pesquisa, como a cannabis (2%) e benzodiazepínicos (7%) — medicamentos sedativos utilizados no tratamento de ansiedade e insônia, por exemplo. “Aqueles que consumiram cocaína apresentaram maiores riscos para o óbito por homicídio, os que consumiram álcool possuíam mais chances para mortalidade no trânsito e aqueles que consumiram os benzodiazepínicos, maiores riscos para o suicídio”, explica. 


Perfil das vítimas 


Segundo o relatório, 86% das pessoas eram do sexo masculino, com uma média de idade de 33 anos. Eles eram majoritariamente pardos (72%) e da região Sul do País (62,9%). “Como nós coletamos em quatro regiões do Brasil, essa questão se alterou um pouco de acordo com as próprias características da população de cada local”, destaca Bombana. Além disso, os óbitos ocorridos após o consumo de álcool e/ou drogas eram mais prováveis de ocorrerem aos finais de semana (36,3%) e no período noturno (51,6%).


Políticas públicas


Segundo o especialista, o objetivo do Projeto Tânatos era fazer um levantamento para verificar o impacto do uso das substâncias psicoativas nas mortes e auxiliar na criação de políticas públicas para diminuir a mortalidade. “As drogas estão na nossa sociedade e dificilmente esse quadro vai se modificar, não só aqui mas no mundo. Eu acredito que cabe a nós da Academia mostrar os dados e ao Poder Público não deixar essas pessoas irem a óbito.” 


Bombana vê como essencial a criação de um banco de dados nacional unificado para essa questão. “Hoje, essas vítimas de mortes violentas são analisadas pelos IMLs — Institutos Médico Legais —, pelas polícias civil, técnica e científica. Cada polícia tem o seu sistema, tem o seu procedimento de análise e o seu banco de dados próprio. Isso acaba dificultando a obtenção de dados e a padronização desses dados. O Ministério da Justiça lançou o Obid, o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, que serve como um repositório de informações, de estudos, de levantamentos relacionados a álcool e outras drogas. Então eu vejo como um pontapé inicial, como um começo na unificação desses dados para facilitar um pouco futuros estudos e futuras políticas que sejam implementadas”, finaliza.

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