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Reprodução/Youtube |
Depois de doze anos de cochilo, o Hospital do Seridó, esse monumento ao compadrio, vai enfim implantar leitos de UTI Neonatal. Mas, não se apresse o leitor a bater palmas: os leitos não nascem da razão administrativa, nem do zelo técnico — nascem do cadáver de um bebê de trinta dias. Morto na fila, como se fosse um número vencido na senha do supermercado estatal.
A estrutura existia — dizem com a placidez de quem comenta o clima. Existia como existe um piano em casa de surdo. Existia, mas não funcionava. Era o Hospital do Seridó, reduto onde se escondem as promessas que não têm medo de virar mentira, porque sabem que ninguém as cobrará. Quem comanda o hospital, comanda votos — e, por conseguinte, comanda destinos. A saúde? Ah, essa fica para depois do carnaval.
Na última eleição, houve o pequeno deslize de um áudio vazado — uma alma comissionada, tremendo de medo de perder o feudo, conclamava os colegas a comparecerem aos comícios. Era isso ou rua. E se há algo mais frágil que a saúde do município, é o emprego dos apadrinhados. A moral, como de hábito, estava de férias — talvez em Tibau.
E o povo? Ora, o povo dança. Literalmente. Paga-se com gosto o trio elétrico, o show, o cantor do momento. Um tal de Henry Freitas que não vale 50 centavos custou R$ 600 mil aos cofres do município — dinheiro da arrecadação própria. Um bebê agoniza por falta de UTI, mas a praça vibra ao som do refrão. “Prioridade”, nesse sertão, rima com “foguete”.
A imprensa local, feita de blogs onde o redator atende por “cargo comissionado”, trata a instalação tardia da UTI como um feito heroico. Heroico seria se o leito tivesse existido quando ainda havia vida para nele respirar. Agora, é apenas carpintaria fúnebre com verniz eleitoral.
Sim, senhor leitor, se dependesse de trio elétrico, a criança teria sido atendida. Faltou-lhe não o ar, mas o aplauso. Na política da nossa província, vive-se de claque, não de consciência.
O escândalo, portanto, não é o que ocorreu. É o que nunca ocorreu, apesar de poder. É o silêncio de 12 anos, interrompido por um choro que não se ouve mais. E é nesse silêncio que a política ensaia seu próximo discurso — afinado, populista e, como sempre, tarde demais.
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