Por Maurício Takahashi, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville
A nova onda de tarifas comerciais anunciadas pelo presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, sacudiu os mercados internacionais, reacendendo os temores de uma guerra comercial em larga escala. Com a imposição de tarifas de até 10% sobre produtos importados de países como Brasil, China, Alemanha e México, a iniciativa promete repercussões globais – e sim, o impacto chega até a mesa do brasileiro.
Mais do que uma medida de política externa americana, as tarifas representam uma pressão econômica direta sobre países exportadores.
Entre os alvos da medida estão produtos-chave da pauta de exportações brasileiras, como aço, café, carnes e suco de laranja. As tarifas tornam esses produtos menos competitivos no mercado americano, o que pode gerar redução nas exportações, perda de empregos em setores exportadores e pressão sobre o câmbio e os preços internos.
Em resposta, o governo brasileiro anunciou que estuda medidas de retaliação, como aumento de tarifas sobre produtos americanos, além da possibilidade de levar a disputa à Organização Mundial do Comércio (OMC). Ao mesmo tempo, abrem-se oportunidades em outros mercados. Países que também foram atingidos pelas tarifas americanas, como a China, podem buscar novos parceiros comerciais — e o Brasil pode se beneficiar como fornecedor alternativo de commodities agrícolas e minerais.
O que isso tem a ver com você?
É comum que medidas como essa pareçam distantes da vida do cidadão comum. Mas as implicações afetam diretamente o cotidiano das famílias brasileiras.
Com o encarecimento do dólar e dos produtos importados, prepare-se para uma maior propensão à inflação (aumento generalizado de preços). São previsíveis aumentos em eletrônicos, eletrodomésticos e celulares, produtos com insumos estrangeiros (medicamentos, fertilizantes, peças) e alimentos com preço atrelado ao dólar (trigo, carne bovina, óleo de soja). Lembre-se, com o dólar mais caro, em certos setores, fica mais atrativo exportar para novos mercados sem a intervenção das novas tarifas, do que abastecer o mercado local. Então, continua valendo a máxima: “quem se prepara antes, tem mais clareza de como agir”.
Diante das possibilidades, cabem algumas dicas para tentar driblar potencial alta de preços. Prefira produtos nacionais ou de origem local, compare preços com mais rigor e, principalmente, evite dívidas em dólar ou compras parceladas longas.
Um outro aspecto é em relação aos investimentos. Eles estarão mais voláteis (com maiores e mais frequentes altas e baixas). As bolsas reagem com alta volatilidade a tensões comerciais. O real pode se desvalorizar e os juros podem subir ainda mais, impactando aplicações e financiamentos. Com este pressuposto em mente, avalie diversificar parte da carteira com investimentos atrelados ao dólar, como BDRs e fundos cambiais. Como as medidas são inflacionárias, considere proteger-se com títulos indexados à inflação (Tesouro IPCA+). Sempre é bom lembrar: mantenha uma reserva de emergência robusta, de 6 a 12 meses da média do seu consumo mensal.
Até que ponto estas medidas podem afetar o mercado de trabalho e o empreendedorismo?
De um lado, analisando com os dados que temos até o momento, alguns dos setores exportadores tarifados com novas alíquotas podem reduzir contratações. Por outro lado, surgem brechas nos mercados em que os produtos estrangeiros ficam mais caros, já que pode reorganizar cadeias produtivas, gerar oportunidades inesperadas e exigir um novo olhar sobre o consumo, os investimentos e as profissões do futuro.
Mais do que nunca, é hora de buscar resiliência financeira por meio de reservas, de aplicações, de evitar novas dívidas e visão estratégica, mesmo dentro de casa. Ter clareza, um bom planejamento e disciplina para agir conforme foi pensado de forma racional, podem ser diferenciais para atravessar mais este período de incertezas com tomada de decisão mais consciente – e até pode gerar com ganhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário