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sábado, 28 de junho de 2025

Cidade de 2 mil habitantes paga mais de 700 mil reais por show de Leonardo

Reprodução/Redes Sociais


Enquanto parte do país discute corte de gastos e responsabilidade fiscal, a pequena cidade de Curral Velho, no sertão da Paraíba, resolveu mostrar a força da demagogia e da irresponsabilidade com dinheiro público no país.


Na sexta-feira (27), em comemoração à sua emancipação política, o município promoveu um show do cantor Leonardo ao custo inacreditável de R$ 754 mil — dinheiro público, claro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme censo de 2022, a população de Curral Velho era de 2.292 habitantes.



Ainda segundo o Censo de 2022 do IBGE, Curral Velho possuía apenas 298 pessoas empregadas formalmente. Já o salário médio mensal dos trabalhadores formais na cidade é um dos mais baixos do Brasil.


Pior: 93% das receitas da cidade vêm de transferências correntes, ou seja, do dinheiro repassado por União e Estado — a arrecadação própria é praticamente inexistente. Em termos simples, o show foi pago, indiretamente, por todos os brasileiros.


Não para por aí. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, 527 famílias de Curral Velho recebem o Bolsa Família. Metade da população, na prática, depende diretamente do governo federal para sobreviver.


O caso de Curral Velho não é exceção: a Paraíba tem hoje 223 municípios, sendo um dos estados com mais prefeituras por habitante no país. Muitas dessas cidades são minúsculas, com estruturas administrativas infladas, como Câmaras Municipais e secretarias, sustentadas à base de repasses federais e estaduais. A municipalização exagerada serve muitas vezes mais à política local do que à eficiência pública.


O dinheiro que deveria estar impulsionando a educação, fomentando a ciência e financiando tecnologias para tirar o Nordeste do atraso histórico está sendo desviado para bancar palcos, som e camarins. Em vez de investir na formação de jovens, na capacitação profissional ou na criação de condições para uma verdadeira industrialização regional, o que se vê é a priorização de fogos de artifício e agendas de shows, como se a festa momentânea pudesse substituir o desenvolvimento de longo prazo. Trata-se de um modelo de gestão que privilegia o aplauso imediato e o populismo cultural em detrimento de um futuro mais digno e autônomo.


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