Três municípios do interior da Bahia que enfrentam situação de emergência por conta da estiagem aparecem entre os que mais investiram recursos públicos na contratação de artistas para os festejos juninos de 2025. Segundo levantamento divulgado pelo Painel de Transparência dos Festejos Juninos, do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), as cidades de Senhor do Bonfim, Quijingue e Tucano, juntas, destinaram R$ 14,8 milhões para bancar cachês de atrações musicais de renome nacional.
A contradição entre a calamidade reconhecida oficialmente e os gastos milionários com festas chama atenção. De acordo com o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, todas as três cidades possuem decretos de emergência ativos, motivados pela estiagem prolongada que afeta a produção agrícola, o abastecimento de água e a subsistência de milhares de famílias do semiárido baiano.
Em Senhor do Bonfim, localizada no norte do estado, o decreto de emergência tem validade até 7 de julho. Ainda assim, o município destinou parte de seus recursos para apresentações como a do cantor Leonardo, com cachê de R$ 750 mil. Já Quijingue, no nordeste baiano, segue em situação de emergência até 30 de setembro, mas contratou shows como o da dupla Matheus e Kauan por R$ 650 mil. Por fim, Tucano, a cerca de 268 km de Salvador, com decreto válido até 25 de outubro, investiu em artistas como Natanzinho Lima (R$ 600 mil) e Cesar Menotti (R$ 480 mil).
Apesar de não serem ilegais, os gastos com festividades em contextos de emergência têm sido duramente criticados por órgãos de controle e parte da população. Para o Ministério Público, que monitora os contratos via painel digital, os altos valores destinados a entretenimento em cidades que oficialmente enfrentam calamidades podem configurar má gestão dos recursos públicos, especialmente diante de demandas urgentes por abastecimento de água, saúde e assistência social.
A polêmica reacende o debate sobre a prioridade de políticas públicas em municípios do semiárido nordestino. Enquanto milhares de moradores sofrem com a seca e os reservatórios operam em níveis críticos, prefeituras apostam em grandes eventos como estratégia de movimentar a economia local e atrair turistas. Especialistas alertam, no entanto, que essa escolha precisa ser equilibrada com investimentos estruturantes para garantir segurança hídrica e sustentabilidade social a médio e longo prazo.
O MP e os Tribunais de Contas devem acompanhar a execução dos contratos e a prestação de contas das festas. A repercussão pode ainda gerar ações judiciais ou pedidos de suspensão de pagamentos, caso se comprove prejuízo ao erário ou afronta à moralidade administrativa.



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