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quinta-feira, 12 de junho de 2025

Formidável, sim, é ver o Estado de Direito prevalecer sobre a demagogia

Jair Bolsonaro presta depoimento durante julgamento de tentativa de golpe de estado. 10.06.25 (Foto: Antonio Augusto/STF)



É espetáculo formidando, de régia lição cívica, contemplar o representante da lei — na tribuna, na toga, no verbo — desmascarando o sofista, o embusteiro, o vendedor de ilusões. Eis o que significa ver um promotor de justiça, ou um juiz erguido pela razão constitucional, pôr em seus justos limites um demagogo tresloucado.


Neste delírio fanático que sequestrou a lucidez de vastas parcelas do povo brasileiro — outrora amante da cordialidade, hoje refém da cólera —, o nome do senhor Jair Bolsonaro tornou-se estandarte de um populismo rude, que, travestido de moralismo, só espalha ruína institucional e rancor entre compatriotas.


E enquanto muitos, extraviados da verdade, ousam acusar a Corte Suprema de vilipendiar a democracia, cumpre lembrar, com a frieza dos fatos, que o Supremo Tribunal Federal não comanda exércitos, não maneja cofres públicos, não legisla sobre as paixões. Sua única arma é a palavra da Constituição. Sua força está na fragilidade de seu poder físico e na robustez de sua autoridade moral. Um poder, como na tradição americana de checks and balances, que fala por último, ainda que desarmado.


A postura do juiz Alexandre de Moraes, firme como o granito do direito, audaz como se exige dos guardiões da República, será lembrada — quando se dissiparem as névoas do partidarismo — como salvaguarda histórica do regime democrático. Sua coragem será herança cívica. E ainda que o presente o injurie, o futuro lhe será grato.


Pois o julgamento popular, desassistido da razão, é por vezes o mais cruel dos tribunais. Lembremo-nos: foi o povo quem gritou "Barrabás!", crucificando o justo. E é esse mesmo povo — não raro desleixado com seus próprios deveres — que de tempos em tempos engendra um falso redentor, elege o mais ruidoso, e entrega-lhe, como cordeiro ao lobo, as chaves da Nação.


Mas combater a corrupção não é berrar slogans. Lutar contra o sistema podre não é mitificar canalhas. Exige sacrifício: estudar com afinco, honrar compromissos, não se deixar vender, cultivar a própria dignidade e calar diante da vida alheia.


É, pois, triunfo da civilização quando um demagogo se vê constrangido diante da Lei. É nesse instante, quando a palavra ponderada do juiz cala o grito estridente do impostor, que a democracia se regenera.


E que o povo aprenda, por fim, que os heróis da República são os que silenciosamente constroem, e não os que ruidosamente destroem.

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