Desde que Donald Trump ascendeu ao centro da política global com seu estilo beligerante, protecionista e abertamente autoritário, o mundo tem assistido ao ressurgimento de um tipo de imperialismo que mistura economia, intimidação e desprezo pela soberania de outras nações. A recente ameaça comercial feita ao Brasil pelo governo norte-americano expõe com clareza essa prática de chantagem política travestida de defesa dos “interesses nacionais dos EUA”. Mais do que mirar no Brasil, a estratégia de Trump é atacar toda forma de autonomia que não se submeta aos desígnios da Casa Branca. E, neste cenário, Jair Bolsonaro surge apenas como um peão servil, um álibi conveniente que mascara o verdadeiro objetivo: manter o domínio geopolítico e comercial dos Estados Unidos custe o que custar.
A investigação anunciada pelo U.S. Trade Representative (USTR) lista uma série de alegadas “práticas desleais” adotadas pelo Brasil. Entre elas estão o tratamento dado ao etanol americano, o incentivo ao desmatamento, a proteção da propriedade intelectual e até o combate à corrupção. Trata-se de uma coleção de acusações moldadas conforme os interesses norte-americanos – uma espécie de “checklist” geopolítico que, na prática, serve para justificar sanções, sobretaxas e isolamento comercial sempre que um país decide trilhar um caminho próprio.
É sintomático que um país que abriga empresas historicamente envolvidas em corrupção transnacional, como as gigantes do setor de tecnologia e farmacêutico, queira dar lições de moral sobre fiscalização e transparência. A acusação de que o Brasil não combate a corrupção ou protege de forma ineficaz a propriedade intelectual esconde a real disputa: o acesso ao mercado digital brasileiro, onde empresas americanas como Meta, Amazon, Google e Microsoft enfrentam crescente resistência regulatória.
O mesmo se aplica à questão ambiental. O desmatamento ilegal na Amazônia é um problema grave e urgente – que de fato piorou no governo Bolsonaro –, mas a pressão dos EUA sobre esse tema está muito mais ligada à competitividade de seus próprios produtores agrícolas e madeireiros do que à proteção ambiental em si. O discurso ecológico, aqui, serve apenas como pretexto para tarifas e chantagem comercial.
A postura de Trump representa uma forma renovada de guerra fria, na qual o confronto ideológico é substituído pela intimidação econômica. O Brasil – com sua instabilidade política, dependência externa e vulnerabilidade cambial – torna-se um alvo ideal. Ao acusar o país de protecionismo seletivo e ameaçar com sanções, os EUA buscam não apenas reequilibrar a balança comercial, mas também reinstaurar sua influência sobre uma América Latina que, nas últimas décadas, ensaiou movimentos de maior independência.
Trump não age por princípios universais. Seu interesse é exclusivo: proteger os lucros e o poder de suas corporações. O Brasil, ao tentar implementar políticas de soberania digital, regulação ambiental ou preferências tarifárias regionais, desafia essa lógica e, por isso, é atacado.
O caso atual revela que a retórica trumpista não mudou: ela é imperialista, chantagista e profundamente desonesta. O uso de Bolsonaro como instrumento político reforça o caráter neocolonial da estratégia americana. Diante disso, cabe ao Brasil reafirmar sua soberania, investir em relações multilaterais e resistir às tentativas de subordinação externa. A independência política e econômica não se conquista com submissão – e sim com coragem, estratégia e dignidade nacional.



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