O Brasil do Avesso: Quando o Sagrado é Profanado pelo Lixo e pelo Barulho
Durante a Festa de Sant’Ana em Caicó, uma das mais tradicionais manifestações religiosas do interior do Rio Grande do Norte, o que deveria ser momento de fé, respeito e comunhão popular se transforma, ano após ano, em vitrine explícita de nosso subdesenvolvimento social, cultural e político. É como se o sagrado abrisse espaço para a barbárie e para a degradação coletiva sob aplausos institucionais e silêncio cúmplice de quem deveria cuidar do bem público.
Na última quinta-feira (24), a praça da Igreja Matriz de Sant’Ana foi palco de uma cena grotesca. Durante a novena a praça da matriz mais lembrava um curral de porcos tamanha a quantidade de lixo jogada no chão durante a "Feirinha". Montanhas de copos, embalagens plásticas, restos de comida e garrafas espalhadas pelo chão. O templo virou lixeira a céu aberto.
Já na madrugada deste sábado, foi a vez da chamada “cultura” de palco mostrar sua face mais ensurdecedora. O cantor de lambada Xand Avião — ex-vocalista da banda "Aviões do Forró", nome que já revela o marketing de massa que substituiu poesia por potência de caixa de som — causou poluição sonora que se estendeu até depois do amanhecer. Com uma voz sem técnica, letras descartáveis e gritaria que beirava o ofensivo, o espetáculo reforçou a velha tática da indústria cultural cearense de Fortaleza: triturar a tradição e empacotar o ruído como produto rentável.
Esse elemento integrou a famigerada banda cearense de lambada, curiosamente batizada de "Aviões do Forró", uma das principais responsáveis por poluir o Nordeste culturalmente ao longo de quase duas décadas. Essa banda representou, como poucas, a destruição da rica tradição musical nordestina pelas engrenagens da indústria cultural de Fortaleza.
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