| Reprodução X senador Flávio Bolsonaro |
A ausência dos governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR) e Ronaldo Caiado (GO) nos atos organizados por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro no último domingo (3) foi interpretada como um sinal claro de reposicionamento no campo da centro-direita. Para o cientista político Elias Tavares, trata-se de uma movimentação estratégica voltada à disputa pelo eleitor moderado, diante da radicalização crescente do bolsonarismo.
“Esses governadores entenderam que o eleitorado brasileiro não está mobilizado em torno da anistia de Bolsonaro. O foco da população está em emprego, economia, segurança. Ao se ausentarem do ato, eles sinalizam que querem construir uma nova direita, mais pragmática, capaz de dialogar com o centro”, avalia Tavares.
Os atos promovidos por lideranças religiosas e por figuras próximas a Bolsonaro pediam, entre outros pontos, o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal e a anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro. Segundo Elias, a pauta estreita e personalista das manifestações compromete a amplitude eleitoral do campo bolsonarista.
“O bolsonarismo está com uma pauta encolhida, focada em salvar o próprio líder. Isso desmobiliza a população e não responde às questões do Brasil real. Os governadores sabem disso e, por isso, estão buscando uma nova narrativa”, afirma.
Na visão do analista, a ausência conjunta dos quatro nomes todos cotados como possíveis candidatos à Presidência em 2026 *não foi casual*, mas fruto de uma leitura compartilhada de que o caminho para conquistar o Planalto *passa pela moderação* e pela capacidade de disputar o eleitorado indeciso.
“O Brasil está dividido em três blocos: a esquerda, o bolsonarismo e o eleitor de centro. Esse eleitor de centro é o mais volátil e decisivo. Os governadores estão tentando se credenciar para conversar com ele, e não com as redes de WhatsApp mais radicais”, pontua Tavares.
Para ele, o gesto coletivo reforça a ideia de que a próxima eleição presidencial será marcada por uma disputa interna na direita, entre o bolsonarismo ideológico e uma centro-direita mais institucional.
“Não se trata de uma traição a Bolsonaro, mas de uma tentativa de sobrevivência política. Esses governadores não querem ser arrastados para o desgaste da radicalização. Estão construindo suas próprias alternativas”, conclui.


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