Eduardo Pimenta, adviser da Orbital, fala mais sobre como a tecnologia é uma saída para diversos setores, mas também terá que se preocupar com suas próprias emissões de CO²
Com a crise climática avançando, a tecnologia emerge como resposta essencial, mas também traz um dilema: ela mesma contribui para emissões de CO₂. Em 2023, transporte e indústria consumiram 64,8% da energia no Brasil, e o avanço de datacenters ameaçam sobrecarregar ainda mais a matriz energética, apesar de já termos alcançado um bom volume de fontes renováveis na matriz elétrica. Isso inclui a emissão de gases do efeito estufa com a própria tecnologia, que hoje já se tornou uma preocupação de grandes empresas do setor. Mas afinal, como equilibrar a balança no setor?
Nos últimos anos, a inovação tem ocupado o centro das estratégias de combate às emissões de gases de efeito estufa (GEE), com soluções que vão desde a digitalização da agricultura à substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis. O Adviser da Orbital, startup de tecnologia, Eduardo Pimenta, diz que a tecnologia é uma aliada necessária neste momento de crise.
No Brasil, há 162 datacenters, segundo estimativas da Associação Brasileira de Data Center, impulsionados pela digitalização do setor privado e o avanço da IA. Segundo Pimenta, até 2026, espera-se adicionar cerca de 550 MW de capacidade, quase dobrando a infraestrutura atual, e alcançando 1.200 MW até 2029. Esse crescimento, no entanto, traz impactos: os datacenters consomem intensamente energia (sobrecarregando uma matriz baseada em hidrelétricas) e água (60‑80% evaporada em refrigeração), colocando pressão sobre uma infraestrutura já fragilizada e agravando a desigualdade de acesso à energia.
“Não há como negar que a tecnologia tem sido essencial em diversos setores na luta contra as mudanças climáticas. Ela tem permitido desde uma agricultura mais eficiente e sustentável até o avanço das energias renováveis, passando por sistemas inteligentes que reduzem desperdícios e otimizam o uso de recursos. Tecnologia e dados podem ajudar a identificar onde há desperdício e onde se pode reduzir emissões sem comprometer o crescimento econômico. Essa é a lógica da inovação climática”, explica Pimenta.
No entanto, o crescimento exponencial do setor de tecnologia também traz consequências ambientais cada vez mais difíceis de ignorar. A produção e descarte inadequado de dispositivos eletrônicos geram um volume crescente de resíduos, dos quais apenas 22,3% foram reciclados em 2022 e o avanço das IAs pode ser um estopim para o aumento destes números, já que dados do Google apontaram que a empresa aumentou em 50% a emissão de carbono por conta da inteligência artificial. O Adviser afirma que o uso intensivo de energia por servidores, centros de dados e infraestrutura de inteligência artificial são fatores preocupantes quando se pensa em pegada de carbono.
“Com o aumento do uso da IA e de tecnologias cada vez mais complexas, cresce a necessidade de uso de servidores mais robustos e também o uso de energia. É necessário explorar soluções que reduzam essas emissões, mas que não nos tire a qualidade tecnológica que temos hoje. É complexo, mas grandes empresas como Google e Microsoft se comprometeram a reduzir suas emissões. O setor de tecnologia tem tudo para atuar como problema e solução nos próximos anos”, diz Pimenta.
Segundo um estudo publicado pelo think tank francês, The Shift Project, estima-se que 4% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) sejam provenientes do uso da internet, e cerca de 40% dessa quantidade advém da energia utilizada para carregar sites. A preservação do meio ambiente deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade urgente, e cada pequeno esforço, como a redução do consumo digital, pode fazer uma grande diferença no combate às mudanças climáticas.
A tecnologia tem o potencial de acelerar e muito a transição para uma economia resiliente e descarbonizada, mas isso só será possível se ela própria passar por uma revolução verde, com uso consciente, regulação inteligente e incentivos adequados para inovação limpa.
“O desafio não está apenas em criar novas soluções. É preciso fazer escolhas éticas e sustentáveis sobre como, por que e para quem usamos a tecnologia. Em um planeta que se aquece rapidamente, não basta inovar, é preciso fazer isso com responsabilidade”, finaliza o Adviser.


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