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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Pesquisa de 20 mil reais da Prefeitura de Caicó escancara o uso político da Festa de Sant’Ana



A Prefeitura de Caicó desembolsou R$ 20 mil para contratar a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (FECOMÉRCIO/RN) com o objetivo de realizar uma pesquisa sobre o impacto econômico da Festa de Sant’Ana 2025. O processo foi feito por dispensa de licitação (nº 023/2025), homologada em 17 de julho pelo prefeito Judas Tadeu Alves dos Santos.


Embora a Festa de Sant’Ana seja reconhecidamente o maior evento religioso e cultural do município, a iniciativa levanta questionamentos: se a pesquisa interessa diretamente ao comércio local, não caberia às próprias entidades empresariais financiar o levantamento? Ao assumir esse custo, a Prefeitura transforma o estudo em peça de autopromoção política bancada com dinheiro público.


A contradição do “fortalecimento econômico”


Dados oficiais revelam que apenas 22% da população de Caicó possui vínculo formal de trabalho — um índice baixo, mas comum no interior nordestino. Apesar disso, sucessivas gestões municipais insistem em injetar recursos em festas e contratações artísticas, sob o pretexto de estimular a economia. O problema é que os ganhos são passageiros e restritos a alguns setores, enquanto o custo é permanente para os cofres públicos.


Se a intenção fosse de fato promover o desenvolvimento econômico, seria mais eficaz investir em educação, qualificação profissional e combate ao analfabetismo — bases indispensáveis para superar o subdesenvolvimento do Nordeste. O efeito multiplicador de uma política de alfabetização e inserção produtiva é infinitamente maior do que o de uma noite de shows.


O preço da política-espetáculo


Ao gastar recursos em pesquisas e festividades, a Prefeitura não apenas reforça o modelo de “cidade-evento”, mas também promove a velha política do espetáculo: o prefeito se coloca como patrocinador da alegria popular, enquanto serviços essenciais seguem precários. Nesse sentido, os R$ 20 mil não são apenas para medir o impacto econômico da festa, mas sim para consolidar o impacto político do gestor.


A população de Caicó merece, mais do que shows e relatórios encomendados, uma política pública voltada à emancipação social. Porque, no fim das contas, o maior impacto econômico que a Festa de Sant’Ana poderia gerar seria um projeto duradouro de desenvolvimento humano e não um balanço publicitário para exibição em palanque.

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