Após um rali que levou o preço a níveis recordes, o ativo digital opera abaixo dos U$100 mil em meio ao clima global de aversão ao risco, desalavancagem e redução da liquidez
O Bitcoin, antes símbolo da nova fronteira de investimentos, atravessa um período de forte instabilidade. Depois de alcançar a máxima histórica de US$ 125 mil em outubro de 2025, a maior criptomoeda do mundo enfrenta uma sequência de quedas acentuadas. Na sexta-feira (21), o criptoativo atingiu seu menor valor dos últimos sete meses, sendo cotado por volta de US$ 83 mil e ao longo do último mês acumulou uma desvalorização de 20,87%.
Segundo o economista e sócio da iHUB Investimentos, Lucas Sharau, o cenário é típico de momentos em que a aversão global ao risco aumenta.“O Bitcoin é amplamente impactado quando o apetite a risco desaparece. É um ativo que amplifica movimentos de queda em períodos de aversão, por isso exige cautela de quem investe”, explica o especialista.
Nos últimos meses, as incertezas no sistema financeiro americano e o aumento da busca por segurança fizeram investidores reduzirem posições em ativos considerados especulativos. O efeito foi imediato: quedas expressivas e liquidações forçadas em derivativos de cripto, o que expôs a fragilidade estrutural do mercado. Relatórios indicam que o volume de ordens e a profundidade de mercado estão menores, o que aumenta a volatilidade e potencializa os movimentos bruscos.
Sharau destaca que, embora a popularização dos ETFs de Bitcoin e os avanços regulatórios tragam mais estabilidade ao setor, isso não elimina o risco. “Não há calmaria automática só porque agora há mais infraestrutura ou ETFs; o risco permanece, principalmente para perfis mais conservadores”, afirma.
O que considerar antes de investir?
Para muitos investidores, a dúvida é se ainda vale a pena ter Bitcoin na carteira. A resposta, segundo Sharau, depende essencialmente do perfil de risco e do horizonte de investimento. Ele explica que investidores conservadores ou moderados devem redobrar a cautela, já que a volatilidade do Bitcoin pode causar perdas significativas em prazos curtos.
Já para quem tem um perfil mais arrojado, o ativo pode ter papel estratégico como forma de diversificação ou proteção parcial contra inflação e variação cambial. “Pequenas fatias entre 2% e 5% do portfólio, historicamente ajudam a melhorar a fronteira de eficiência da carteira. Mas é fundamental ter consciência de que o Bitcoin é um ativo de risco elevado”, reforça o economista.
Sharau recomenda que a entrada seja feita de forma gradual e planejada, por meio de aportes periódicos - uma estratégia conhecida como dollar cost averaging (DCA). Ele também ressalta a importância de escolher plataformas com boa governança e custódia qualificada, além de manter reserva de liquidez em ativos mais seguros.
Perspectivas e cuidados
O desempenho do Bitcoin reflete não apenas questões internas do universo cripto, mas também a desaceleração global e a mudança no comportamento dos grandes investidores institucionais, que reduziram novas alocações após o pico de valorização.
Apesar disso, Sharau pondera que a trajetória de longo prazo do Bitcoin ainda depende de fatores como adoção institucional, ambiente regulatório e evolução tecnológica. “Regulação vem para estruturar a infraestrutura, mas não elimina a oscilação de preço no curto prazo. O Bitcoin continua sendo uma opção interessante para quem entende o risco e o enxerga como parte de uma estratégia maior, não como aposta isolada”, conclui.
Em um cenário de “medo extremo” e liquidez reduzida, a recomendação é de prudência. O Bitcoin segue sendo um ativo relevante e inovador, mas que deve ser tratado com racionalidade. Para investidores iniciantes ou conservadores, talvez o melhor movimento agora seja analisar minuciosamente o mercado antes de entrar.


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