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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

"Quando o viral encontra a Justiça: o caso do prefeito-tiktoker Rodrigo Manga em Sorocaba"

De influenciador de rede social a gestor afastado: o estilo disruptivo de comunicação ganhou tração, agora exige transparência real

Rodrigo Manga (republicanos) divulgação


O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, construiu-se como fenômeno digital, mobilizando as redes com vídeos performáticos, hashtags, caricaturas visuais e uma linguagem de impacto imediato.

 

Contudo, enquanto permanece afastado do mandato por decisão judicial, após nova fase da investigação da Operação Cópia e Cola da Polícia Federal que apura fraudes em contratos de saúde, ele segue fazendo postagens como se nada tivesse acontecido.

 

Rodrigo Manga emergiu como um gestor-influencer. Formado em marketing, já usava vídeos promocionais antes de entrar na política. Nas eleições municipais mais recentes em Sorocaba, foi reeleito com 73,75% dos votos válidos.

 

Seu estilo quebre-paredes-patinetes-guarda-chuvas virou case de marketing político. A esse aspecto, cabe reconhecer: rompeu paradigmas de comunicação política local.

 

No entanto, a performance digital agora esbarra na substância institucional. Em 6 de novembro de 2025, a PF, em nova fase da Operação Cópia e Cola, determinou o afastamento de Manga por 180 dias, por suspeitas que envolvem contratação irregular de organização social, indícios de lavagem de dinheiro, fraudes em licitação e até imóveis de alto valor.


Com o seu afastamento, o vice-prefeito assumiu interinamente.


E é aqui que se coloca a provocação: o gestor que se tornou “prefeito-tiktoker” continua exibindo vídeos, lives, presença digital como se estivesse em pleno exercício de governo. Mas, de fato, não está. A imagem, o exibicionismo, chegou antes da narrativa de crise institucional e perdas de credibilidade. A pergunta que se impõe: como comunica-se quando o mandato está suspenso e as acusações circulam com evidências?

 

Para Elias Tavares, analista de comunicação eleitoral e marketing político, este caso revela duas dimensões:

 

Por um lado, a inovação: Manga mostrou que os tradicionais marcos de comunicação política precisam evoluir, storytelling rápido, linguagem de redes, humor, viralização.


Por outro lado, a limitação: se a autoridade pública é abalada, a viralização sem prestação de contas torna-se risco reputacional e vazio de legitimidade.

 

Logo, é esperado que o prefeito, diante da gravidade da investigação, saia da brincadeira digital e assuma voz de chefe de Executivo: explicações claras, dados, justificativas, não apenas postagens de cotidiano. E sobretudo: direcionamento aos eleitores que confiaram nele.

 

Este episódio serve como lição para candidatos e gestores que apostam no digital: a estética não substitui a ética, o espetáculo não substitui a substância. Redes sociais ampliam alcance, mas não blindam da responsabilidade institucional. A comunicação política integrada deve contemplar: governança, transparência, relato consistente, caso contrário, o “show” vira palco de vulnerabilidade.

 

Rodrigo Manga teve méritos reais ao inovar a comunicação em Sorocaba, ele mostrou que marketing político tradicional está em transformação. Mas agora está no momento crítico: ou ele assume de cara limpa o que está em apuração, ou corre o risco de que o mito digital vire descompasso institucional. A cidade, os eleitores e o cenário político precisam mais do que likes, precisam respostas.

 

Sobre Elias Tavares


Cientista político especializado em comunicação eleitoral e marketing político. Atua como analista em veículos nacionais, preside uma empresa pública de tecnologia e mantém o blog eliastavares.com.br, onde publica reflexões estratégicas sobre política, governo e opinião pública.

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