Todos
os dias chegam até nossas residências uma enxurrada de programas especializados
em notícias relacionadas à violência, são os chamados Programas Policiais, eles
estão em praticamente todos os veículos de comunicação, rádio, televisão,
jornais e agora também em uma multiplicidade de blogs na internet, todos com um
único fim: transformar em espetáculo a violência e reproduzir o medo, o medo
cria nas pessoas a figura de um abominável inimigo na figura do assaltante, do
vagabundo que ganha um estereótipo específico.
O
Perfil dos apresentadores desses espetáculos é bastante singular, sujeito
impecável, capaz de apontar as soluções para todos os problemas da sociedade,
mas que na verdade a única coisa que sabe fazer é por a culpa de todo o
problema da violência social naquele inimigo, o vagabundo.
Segundo
Sharon Zukin (1985) citado por Bauman (2001,P.110) endurecer
contra o crime construindo mais prisões e impondo a pena de morte são as
respostas mais corriqueiras à política do medo. Prendam toda a população, ouvi
um homem dizer no ônibus, reduzindo a solução a seu ridículo extremo. Outra
resposta é a privatização e militarização do espaço público – fazendo de ruas,
parques e mesmo lojas mais seguros, mas menos livres...
O
medo se transformou em mercadoria, a violência é muito rentável, por exemplo, o
Programa de TV mais assistido no Rio Grande do Norte no seu horário, segundo o
IBOPE foi o policial Patrulha da Cidade, os blogs mais acessados do estado são
os que trazem o espetáculo da violência.
O
sociólogo polonês, Zigmunt Bauman, em seu livro Modernidade Líquida (2001,
P.110) mostra a forma como se usa do medo criado para estimular o crescimento
da segurança privada. Citando Sharon Zukin, Bauman mostra a aparência dos
espaços públicos de Los Angeles. “Os helicópteros zunem nos céus sobre os
guetos, a polícia hostiliza os jovens como possíveis membros de gangues, os
proprietários compram a defesa armada que podem... ou têm coragem de usar”.
Na
medida em que a violência se torna mercadoria ela precisa ser multiplicada, ao
invés de se pedir investimentos em políticas públicas no sentido de eliminar a
pobreza, investi em educação de qualidade, a sociedade clama por segurança; a
segurança, seja ela privada ou mesmo pública, é essencial para que se estimule
a guerra entre o medo da população considerada normal e os monstros, os
assaltantes.
Em
entrevista à Radioagência NP, após participação no debate “Desmilitarização da
polícia e da política”, ocorrido no dia 3 de dezembro de 2012 na PUC-SP, o o
advogado que atua na área de direitos humanos Renato Roseno, afirmou que “o
medo vira pretexto para destituir a liberdade e criminalizar pobres”.
Quando
foi perguntado sobre como a mídia ajuda a sustentar o projeto de estado assentado
na produção de exploração da opressão, Roseno deixa claro que a mídia cria o
inimigo. “Ela produz legitimidade sobre quem é o perigoso, quem é o suspeito e
quais são os mecanismos que devem ser dirigidos a ele. Por outro lado, ela
produz e reproduz medo. O medo é uma ideia política fundamental. Como a classe
trabalhadora está com medo, não produz rupturas. O medo é o pretexto para
destituir a liberdade”.
Referências:
BAUMAN,
Zigmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar editora, 2001.
ROSENO, Renato. Medo vira pretexto para destituir a liberdade e criminalizar pobres: Rádio Agência NP, São Paulo, 05 dez 2012, Entrevista concedida a José Coutinho Júnior e José Francisco Neto. Disponível em: http://www.radioagencianp.com.br/.
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