A
sociologia que estudara o Brasil em todo o século XX discutiu todas as mazelas
sociais de formação sócio-cultural do país. O que sempre chamara a atenção e
sempre recebera destaque foi o fato de termos feitos as “transformações” sem
participação popular. No que diz respeito à República instituída em 1889 diz-se
que mantemos “institutos” (práticas) nada republicanos, como, por exemplo, o
desconhecimento da igualdade entre todos, ainda mais sendo uma tentativa de Constituição
de inspiração moderna, onde o corpo político deve ser universal. Roberto Romano
destaca, por exemplo, a afixação de cartazes nas repartições públicas tratando
de demonstrar que é crime desrespeitar funcionários públicos e não tem nada
sobe desrespeitar as pessoas “comuns”. Outra característica, analisada por
Roberto DaMatta, é a “força das relações pessoais, aquilo que faz com que o
sujeito que é próximo do “prefeito” possa ter tudo facilitado. Graciliano
Ramos, autor de Vida Secas e São Bernardo disse que “Prefeito não tem pai”
quando fora prefeito de Palmeira dos índios (AL) e é até hoje o maior símbolo
de republicanismo, porém desconhecido no Brasil nesse lado de administrador;
diz-se até que candidato que não compra votos e eleito que não distribui cargos
para parentes e apadrinhados são uns “fracos”.
Criamos
dois casos fictícios para tentar representar as relações pessoais interferindo
nas práticas da Administração:
O
juiz contra o jeitinho
Entrou
na sala do juiz um sujeito com uma aparência de quem já ingressara na casa dos
60, a camisa presa pelo cinto fazia com que a barriga avantajada formasse um
verdadeiro contrapeso; cabelo rarefeito ainda um pouco úmido; óculos de lentes
quadradas e grandes e sapatos um brilho de engraxados. Antes que o magistrado
iniciasse a audiência, fez um esforço logo para deixar claro que era parente
daquele Deputado da cidade; como se o juiz, rapaz que há pouco completara 30
anos e grande leitor de sociólogos brasileiros de Gilberto Freire a Roberto
DaMatta; não desse a mínima atenção, já havia percebido a intenção daquele
Cidadão, passou a ser mais “ousado”:
“Isso é um absurdo, essas pessoas chegam aqui e já querem ser donos do Mundo”.
Então o juiz levantara-se e disse com voz nada amistosa que ele ficasse sabendo
que todo são iguais em uma República e que pouco ou nada lhe interessava seus
parentescos. O sujeito se pudesse mandava o Deputado despachá-lo para Bagdá,
mas teve mesmo que dar seu depoimento sem mais mencionar parentescos.
A
amiga dos exames
Em
outra situação uma mulher de menos de 30 anos, loira e não muito alta contava
com satisfação o fato de ter conseguido agilizar na Secretaria de Saúde do
Município um exame com rapidez magnífica; mas, ah se fosse pelo bom
funcionamento da Administração Pública... A coisa tinha ido tão bem porque essa
dama havia sido colega de turma da Moça que agora era a responsável pelo encaminhamento
dos exames. A “favorecida” até se gabava, sentia-se “importante” por ter gente
conhecida com função tão prestigiosa. Até que fora interpelada por um
universitário “radical” estudioso do jeitinho brasileiro: “Devias sentir
vergonha de estares a se gabar de tamanha baixeza, os serviços públicos
deveriam funcionam eficientemente para todos independentemente das relações
pessoais”. Ao que a mulher respondera: “Ah, isso é Brasil mesmo, fazer o quê...
O jovem não quis prosseguir e fora embora, não sem imaginar: “Que pensamento
“chapa-branca” – isso é Brasil mesmo – forma medonha de se escusar...
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