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domingo, 15 de junho de 2014

República dos importantes

A sociologia que estudara o Brasil em todo o século XX discutiu todas as mazelas sociais de formação sócio-cultural do país. O que sempre chamara a atenção e sempre recebera destaque foi o fato de termos feitos as “transformações” sem participação popular. No que diz respeito à República instituída em 1889 diz-se que mantemos “institutos” (práticas) nada republicanos, como, por exemplo, o desconhecimento da igualdade entre todos, ainda mais sendo uma tentativa de Constituição de inspiração moderna, onde o corpo político deve ser universal. Roberto Romano destaca, por exemplo, a afixação de cartazes nas repartições públicas tratando de demonstrar que é crime desrespeitar funcionários públicos e não tem nada sobe desrespeitar as pessoas “comuns”. Outra característica, analisada por Roberto DaMatta, é a “força das relações pessoais, aquilo que faz com que o sujeito que é próximo do “prefeito” possa ter tudo facilitado. Graciliano Ramos, autor de Vida Secas e São Bernardo disse que “Prefeito não tem pai” quando fora prefeito de Palmeira dos índios (AL) e é até hoje o maior símbolo de republicanismo, porém desconhecido no Brasil nesse lado de administrador; diz-se até que candidato que não compra votos e eleito que não distribui cargos para parentes e apadrinhados são uns “fracos”.
Criamos dois casos fictícios para tentar representar as relações pessoais interferindo nas práticas da Administração:

O juiz contra o jeitinho
Entrou na sala do juiz um sujeito com uma aparência de quem já ingressara na casa dos 60, a camisa presa pelo cinto fazia com que a barriga avantajada formasse um verdadeiro contrapeso; cabelo rarefeito ainda um pouco úmido; óculos de lentes quadradas e grandes e sapatos um brilho de engraxados. Antes que o magistrado iniciasse a audiência, fez um esforço logo para deixar claro que era parente daquele Deputado da cidade; como se o juiz, rapaz que há pouco completara 30 anos e grande leitor de sociólogos brasileiros de Gilberto Freire a Roberto DaMatta; não desse a mínima atenção, já havia percebido a intenção daquele Cidadão,  passou a ser mais “ousado”: “Isso é um absurdo, essas pessoas chegam aqui e já querem ser donos do Mundo”. Então o juiz levantara-se e disse com voz nada amistosa que ele ficasse sabendo que todo são iguais em uma República e que pouco ou nada lhe interessava seus parentescos. O sujeito se pudesse mandava o Deputado despachá-lo para Bagdá, mas teve mesmo que dar seu depoimento sem mais mencionar parentescos.

A amiga dos exames

Em outra situação uma mulher de menos de 30 anos, loira e não muito alta contava com satisfação o fato de ter conseguido agilizar na Secretaria de Saúde do Município um exame com rapidez magnífica; mas, ah se fosse pelo bom funcionamento da Administração Pública... A coisa tinha ido tão bem porque essa dama havia sido colega de turma da Moça que agora era a responsável pelo encaminhamento dos exames. A “favorecida” até se gabava, sentia-se “importante” por ter gente conhecida com função tão prestigiosa. Até que fora interpelada por um universitário “radical” estudioso do jeitinho brasileiro: “Devias sentir vergonha de estares a se gabar de tamanha baixeza, os serviços públicos deveriam funcionam eficientemente para todos independentemente das relações pessoais”. Ao que a mulher respondera: “Ah, isso é Brasil mesmo, fazer o quê... O jovem não quis prosseguir e fora embora, não sem imaginar: “Que pensamento “chapa-branca” – isso é Brasil mesmo – forma medonha de se escusar...

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