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terça-feira, 3 de junho de 2014

Taxa de extinção das espécies está mil vezes maior do que seria o normal

Nova estimativa publicada na revista Science revela que, atualmente, cerca de 20 mil espécies correm o risco de desaparecer, e que o índice de extinção aumentou drasticamente depois do surgimento do ser humano. Por Jéssica Lipinski do Instituto CarbonoBrasil


Para muitas pessoas, um encontro fortuito com uma borboleta andorinha Schaus (Papilio aristodemus – foto) ou com a perereca-de-rabb (Ecnomiohyla rabborum – foto) seria uma agradável surpresa e uma oportunidade para um registro fotográfico, seja pelos aspectos belos ou engraçados desses animais. Entretanto, se deparar com qualquer um deles será uma tarefa cada vez mais difícil, visto que os dois estão entre as milhares de espécies que correm o risco de desaparecer num futuro próximo.
Essa perspetiva alarmante foi apresentada pelo estudo The biodiversity of species and their rates of extinction, distribution, and protection (A biodiversidade das espécies e das suas taxas de extinção, distribuição e proteção), publicado nesta sexta-feira (30) pelo periódico Science. Atualmente, cerca de 20 mil espécies estão em extinção, índice que aumentou cerca de mil vezes desde que o ser humano surgiu, sugere a investigação.
Os investigadores chegaram a esse resultado através da estimativa das taxas de extinção de antes do surgimento do ser humano, e depois compararam-nas com os atuais índices de desaparecimento das espécies.
Para fazer isso, os autores tiveram que extrair registos de fósseis e comparar com registos de DNA para criar uma rede de relações entre espécies e mostrar o quão rapidamente elas se diversificam, chegando a uma estimativa de uma extinção a cada dez milhões de espécies por ano.
Depois, os estudiosos observaram as atuais taxas de extinção, monitorizando os animais conhecidos pela ciência e calculando o quanto eles tendem a sobreviver após a sua descoberta, ou se ainda existem. A avaliação desses índices aponta para cerca de mil extinções a cada dez milhões de espécies por ano. O número, embora já fosse esperado, é de dez a 100 vezes maior do que os cientistas calculavam anteriormente.

“Isso não é uma boa notícia, porque é mais alto do que era antes. Mas a comunidade científica já esperava por algo assim”, observou Clinton Jenkins, conservador do Instituto de Investigações Ecológicas (IPÊ) e um dos principais autores do estudo, ao Live Science.
E segundo a investigação, dois dos principais fenómenos provocados pelos seres humanos que levaram a esse aumento nas taxas de extinção são a destruição ou fragmentação dos habitats e as mudanças climáticas, bem como as suas causas e consequências.
“O fator preponderante da extinção das espécies é o crescimento da população humana e o aumento do consumo per capita. Pelo tempo em que essas tendências continuarem – onde e a que taxa – dominarão os cenários de extinção de espécies e os esforços desafiadores para proteger a biodiversidade”, afirma o estudo.
Outro grande problema é conseguir acompanhar as espécies a fim de protegê-las, já que calcula-se que muitas das espécies existentes nem sequer foram descobertas ainda. Para se ter uma ideia, há registos hoje de 1,9 milhão de espécies conhecidas, mas estima-se que existam entre cinco e 11 milhões em todo o mundo.
Solução tecnológica
Entretanto, de acordo com os dois principais autores, Jenkins e Stuart Pimm, biólogo da Universidade de Duke, a situação não é irreversível, e há esperança para a preservação das espécies. Ambos alegam que a solução está relacionada com a tecnologia: através da criação de abrangentes e precisos sistemas de rastreio, como satélites e drones, a monitorização das espécies tornou-se mais fácil, aumentando a chance de conservá-las.
Uma das facilidades nesse sentido é que as espécies mais ameaçadas tendem a ser as que ficam restritas a pequenas porções de áreas ameaçadas, ficando mais fácil fazer um mapa da área e da situação dessas espécies. “Provavelmente menos de 10% [da área terrestre] tem as espécies que realmente corremos o risco de perder. Então se focarmos nessas áreas, pode-se resolver a maior parte do problema”, comentou Jenkins.
Além disso, o surgimento de aplicativos e dispositivos de registo mais acessíveis à população também ajudou a criar uma maior consciencialização na população, e atualmente muitos ‘cientistas amadores’ registam informações de espécies em aplicativos online como o iNaturalist, que permite aos utentes reportarem através de fotos o local em que encontraram animais e plantas.
“A humanidade levou as taxas de extinção ainda mais para cima do que pensávamos anteriormente. No entanto, hoje sabemos mais do que nunca que partes do mundo são as mais importantes de se proteger para evitar futuras extinções de espécies, e novas tecnologias estão a ajudar a monitorizar e a aprender sobre as ameaças nessas áreas”, declarou Jenkins ao mongabay.com.
“Embora as coisas estejam ruins, e esse trabalho mostra que elas estão na verdade piores do que pensávamos que elas estavam, estamos numa posição muito melhor para fazer algo a respeito disso”, acrescentou Pimm.
Outro aspeto que tem ajudado a conter um pouco das taxas de extinção são as áreas de conservação. Pimm afirma que, se não fosse por elas, os índices de desaparecimento das espécies seriam 20% maiores. Contudo, elas não atingem os ecossistemas de forma uniforme: enquanto 13% da área terrestre do planeta pertence a refúgios, apenas 2% dos oceanos fazem parte de áreas de conservação.
Uma das conclusões do trabalho é que ainda há muitas lacunas de informação sobre as espécies. “Subsistem enormes lacunas no conhecimento. Pelo menos para os grupos mais diversos de organismos na Terra, a necessidade urgente de esclarecer quantas espécies há, onde elas vivem e como as suas populações estão a mudar continua a ser um grande impedimento”, disse Peter Crane, da Escola de Estudos Florestais e Ambientais de Yale, ao National Geographic.
“As pessoas muitas vezes dizem que estamos no meio de uma sexta extinção em massa. Não estamos no meio dela – estamos à beira dela. E agora temos ferramentas para preveni-la. Para que o nosso sucesso continue, contudo, precisamos apoiar tecnologias ainda mais poderosas para o futuro”, concluiu Pimm.
Artigo de Jéssica Lipinski do Instituto CarbonoBrasil

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