Artigo de Antonio Silvio Hendges - Portal ecodebate
Uma das principais preocupações em relação à biodiversidade é a diminuição das abelhas. Quase todos os estudos indicam que principalmente por causa dos agrotóxicos e outros produtos neonicotinóides e organofosfatos o colapso das colmeias seja um fenômeno mundial. Além destes produtos, outros fatores são citados como possíveis causadores – ácaros, vírus, fungos, manejo inadequado, fenômenos naturais como extremos de frios e estiagens – mas mesmo estes estudos apontam a diminuição da resistência natural e da imunidade das colmeias aos agentes causadores quando expostas a produtos químicos nocivos capazes de alterar o metabolismo e as respostas biológicas individuais ou coletivas das abelhas. Os impactos sobre o meio ambiente e a biodiversidade ainda estão sendo estudados, mas é consenso que por se tratarem de insetos polinizadores a possível diminuição drástica ou desaparição das abelhas causaria uma série de alterações em nichos e habitats de plantas, outros insetos e mesmo outros animais que dependem das cadeias alimentares relacionadas, incluindo-se o mel. As abelhas são responsáveis por 80% da polinização realizada por insetos e três quartos das culturas alimentares dependem deste serviço ecossistêmico.
Entre os animais consumidores de mel e derivados – própolis, geleia real, ceras – estão os seres humanos. Por isto, este artigo pretende dar destaque além do enfoque ambiental, aos aspectos econômicos e sociais da produção e consumo de mel: quem são os produtores, quanto produzem, quais as regiões brasileiras são as principais produtoras, quais países importam e exportam, quem consome, qual a importância na alimentação, quem controla o mercado e outros questionamentos fundamentais a esta atividade econômica. Indispensável destacar, que o mel é um produto diretamente relacionado com os serviços ecossistêmicos e que sua produção não é possível através de processos industriais convencionais.
No Brasil, os principais produtores de mel são pequenos agricultores em que a apicultura soma-se com outras atividades econômicas e a principal região produtora é a Sul com 49% da produção brasileira. Individualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional com 20%, Paraná com 16,2% e Santa Catarina com 12,9%, destacando-se também Minas Gerais e São Paulo. No Nordeste há uma produção significativa: aproximadamente 46 mil apicultores de nove estados nordestinos produzem 40% do mel brasileiro em épocas com índices de chuvas normais. Em todo o país são 350 mil produtores, sendo 90% agricultores familiares com renda anual de até R$ 6.000,00. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2012 a produção brasileira de mel gerou R$ 40 milhões e cresceu 24% nos últimos seis anos. Em volume foram aproximadamente 33.931 toneladas. Em 2011, foram exportadas 22.390 toneladas e o Brasil ficou em 5º lugar entre os exportadores com 4,5%.
Estado
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Produção em 2012 (em toneladas)
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Rio Grande do Sul
|
6.774
|
Paraná
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5.496
|
Santa Catarina
|
4.388
|
Minas Gerais
|
3.398
|
São Paulo
|
2.821
|
Ceará
|
2.016
|
Bahia
|
1.595
|
Piauí
|
1.563
|
Mato Grosso do Sul
|
820
|
Pernambuco
|
635
|
Total
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33.931
|
Tabela 1 – Principais Estados produtores de mel no Brasil em 2012.
Fonte: Revista Destaque Rural nº 6, página 10.
Na África, os produtores de mel também são pequenos agricultores familiares inseridos em contextos econômicos em que este é fundamental à subsistência. Em muitas regiões, as mulheres cuidam das colmeias, que muitas vezes são móveis para aproveitamento das floradas. A apicultura também diminui as queimadas e além desta produção, existe também a coleta em colmeias selvagens, geralmente para consumo familiar ou de grupos. Neste sentido, o mel no continente africano tem uma grande importância econômica como fonte de energia na dieta e segurança alimentar das comunidades. Mas também existem programas que incentivam os produtores como em Moçambique através da Iniciativa de Terras Comunitárias – ITC e a Fundação Micaia que orienta a assistência técnica e a produção e facilita a comercialização. O Banco Africano de Desenvolvimento – BAD também financia projetos desenvolvidos por associações apícolas. O maior consumidor mundial de mel é a República Centro Africana com 3, 80 kg de consumo anual por habitante em 2009, segundo a FAO. Angola, Etiópia, Moçambique, Quênia e muitos outros países africanos também são grandes consumidores.
Os maiores produtores mundiais São a China que em 2013 produziu 27,4%, Turquia com 5,5%, Argentina com 4,7%, Estados Unidos com 4,2% do total. A Índia está em quinto lugar com 61 mil toneladas. A argentina até 2012 era a segunda colocada, mas manteve a sua produção de 75,5 mil toneladas. O Brasil está em sétimo lugar e caiu duas posições desde 2011. A produção mundial em 2013 calculada pela Food Administration Organization – FAO foi de 1.59 milhões de toneladas. O número total de colmeias é de 79 milhões, sendo chinesas 11,1 milhões. No Brasil existem divergências: a FAO afirma existirem 1 milhão de colmeias e a produção em 2013 de 33,5 mil toneladas, mas as associações de apicultores calculam em 1,7 milhões de colmeias e produção de 50 mil toneladas para o mesmo ano.
Os principais consumidores, além dos países africanos, são os asiáticos e do Oriente Médio como Kuwait, Irã e Emirados Árabes, inclusive em muitas destas regiões o mel está relacionado com aspectos e representações sociais culturais e/ou religiosas. Os países europeus também são grandes consumidores e importam a maior parte de várias regiões e países produtores. A Grécia é o segundo consumidor mundial com 1,5 kg de consumo anual por habitante em 2009. Alemanha, Portugal, Espanha, França e Reino Unido são os principais consumidores. Na Oceania, a Nova Zelândia e a Austrália destacam-se na produção e consumo deste alimento.
País
|
Consumo (kg/habitante/ano) – Em 2009
|
República Centro Africana
|
3,80
|
Grécia
|
1,5
|
Angola
|
1,40
|
Nova Zelândia
|
1,00
|
Turquia
|
1,10
|
Alemanha
|
0,90
|
Portugal
|
0,70
|
Espanha
|
0,70
|
Austrália
|
0,60
|
Irã
|
0,60
|
França
|
0,60
|
Reino Unido
|
0,60
|
Estados Unidos
|
0,50
|
Canadá
|
0,70
|
Uruguai
|
0,60
|
Irlanda
|
0,30
|
Japão
|
0,30
|
Kuwait
|
0,20
|
México
|
0,30
|
China
|
0,20
|
Brasil
|
0,10
|
Argentina
|
0,10
|
Tabela 2 – Principais consumidores mundiais de mel em 2009 segundo a FAO
Fonte: Revista Destaque Rural nº 6, página 9.
Portanto, o mel e seus derivados têm uma importância fundamental em várias regiões geográficas do planeta, assim como internamente ao país e para muitos Estados produtores. Além dos aspectos econômicos relacionados com a sua produção, distribuição, comercialização, geração de trabalho e renda interna ou externa às regiões e áreas produtoras, o seu uso como alimento e fonte de energia em muitos lugares em situação de vulnerabilidade econômica, social e alimentar é essencial a estas comunidades. Também sua produção estimula a cooperação entre os produtores, geralmente pequenos agricultores familiares que se associam para garantirem melhores condições, inclusive de preservação das áreas e plantas essenciais às abelhas. Um impacto sobre a saúde das colmeias terá consequências imediatas na disponibilidade mundial deste produto, assim como de outros alimentos que necessitam da polinização realizada por estes insetos.
Referências:
- Especismo e ecocídio: o sumiço das abelhas. José Eustáquio Diniz Alves. Disponível em:http://www.ecodebate.com.br/2013/09/18/especismo-e-ecocidio-o-sumico-das-abelhas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
- Estudo mostra que pesticidas neonicotinóides e organofosfatos afetam o cérebro das abelhas. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2013/03/28/estudo-mostra-que-pesticidas-neonicotinoides-e-organofosfatos-afetam-o-cerebro-das-abelhas/
- Desordem de colapso das colônias (Colony Collapser Disorder, CCD) derruba exportações de mel do Brasil. Janara Nicoletti. Disponível em:http://www.ecodebate.com.br/2013/09/10/desordem-de-colapso-das-colonias-colony-collapse-disorder-ccd-derruba-exportacoes-de-mel-do-brasil/
- Sinal de alerta. Fabiana Rezende. Revista Destaque Rural, ano I, nº 6, páginas 8-10, maio-junho/2014, Editora Riograndense. Tapejara/RS.
Antonio Silvio Hendges, Articulista no Portal EcoDebate, professor de Biologia, pós graduado em Auditorias Ambientais, assessoria em sustentabilidade em educação ambiental – www.cenatecbrasil.blogspot.com.br
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