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Toshiba, Brastemp, Ford, Volkswagen e Mercedes Benz. Estas são empresas privadas supostamente envolvidas com a ditadura militar brasileira (1964-1985), de acordo com documentos apresentados esta semana pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).A violação dos direitos da classe trabalhadora está sendo alvo de estudos por parte da CNV. Membros e assessores da CNV que integram o grupo de trabalho "Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical" estão discutiram métodos para alcançar resultados positivos na pesquisa e investigação da repressão aos trabalhadores.
Durante entrevista coletiva realizada em São Paulo nesta semana, Rosa Cardoso, membro da CNV que coordena o GT, Sebastião Neto, secretário executivo do GT, e Victoria Basualdo, pesquisadora argentina que analisou o processo de investigação e de judicialização de crimes cometidos durante a ditadura em seu país, em especial, apresentaram documentos que indicam o envolvimento de empresas brasileiras e estrangeiras com a ditadura militar.
Um questionário será enviado nos próximos dias às empresas mencionadas nos documentos localizados pelo GT Trabalhadores. No questionário, a CNV pedirá esclarecimentos sobre a participação delas em ações repressivas contra trabalhadores e sindicatos.
Em um dos documentos, datado de 24 de janeiro de 1981, do Departamento de Ordem Política e Social, aparecem os nomes de mais de 400 funcionários de grandes empresas como Toshiba, Brastemp, Ford e Mercedes Benz. Nas nove páginas constam também o endereço residencial e o setor onde trabalhavam cada um dos funcionários. A CNV está, agora, investigando o motivo pelo qual o Dops recebeu o documento.
Um relatório confidencial da seção de informações do Ministério da Aeronáutica, também, foi apresentado. Nesse documento fica claro que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva foi monitorado pela Volkswagen quando era um proeminente líder sindical do ABC Paulista. Veja aqui o documento.
O documento, de 18 de julho de 1983, encontrado nas investigações feitas no Vale do Paraíba, contém um anexo com "lembretes" que descrevem várias atividades sindicais. Uma dessas notas detalha como foi a assembleia dos mutuários de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, realizada em 19 de junho daquele ano. Horário de início e de término, local, quantidade de pessoas presentes, nome completo e função dos oradores e até mesmo o que foi dito na assembleia constam no relatório. Segundo o documento, os mutuários criticavam o aumento de 130% na prestação da casa própria e Lula afirmava que a única maneira dos mutuários acabarem com "essa pouca vergonha do governo" era não pagar mais as prestações do Banco Nacional da Habitação (BNH).
Um outro relatório, desta vez redigido pela Polícia Civil paulista, mostra a preocupação das empresas em evitar greve dos funcionários. O documento, de 27 de junho de 1978, informa que a indústria Resil SA, de Diadema, ABC paulista, "introduziu entre seus empregados três elementos com a finalidade de informá-los e de ajuda-los na localização dos possíveis mentores do movimento grevista naquela indústria". O relatório continha ainda a ficha funcional completa de um dos funcionários, que de acordo com o documento pretendia parar as atividades dos operários da fábrica.
Segundo Rosa Cardoso, "o monitoramento por parte das empresas era uma prática generalizada, era o uso de uma prática policial que foi utilizada pela polícia política no contexto da ditadura do Estado Novo. Em 64, na preparação do golpe e depois na ditadura sucessiva ela teve o uso ampliado por militares e por empresários".
Após o trabalho de pesquisa e investigação da CNV, todo o material levantado ficará a disposição da sociedade e poderá ser usado pelo Ministério Público e pelas vítimas em ações judiciais nas esferas penal e cível.
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