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sábado, 1 de novembro de 2014

Maior educação, menor população

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

população e educação

Estudo publicado na revista Science, em setembro de 2014 (Gerland et. al, 2014) argumenta que, ao contrário do que se previa até 2010, a população mundial deve continuar crescendo ao longo do século XXI e o mais provável é que o planeta tenha algo em torno de 11 bilhões de habitantes em 2100. O estudo mostra que, com uma probabilidade de 80%, o globo terá entre 9,6 mil e 12,3 bilhões de humanos em 2100, sendo que a projeção média fica em torno de 11 bilhões e a estabilização da população só ocorreria, caso ocorra, no século XXII.
Evidentemente, ninguém sabe dizer com certeza como será o futuro. As projeções são feitas com base em pressupostos que dependem, por sua vez, do conhecimento das experiências do passado. Por exemplo, os dados das últimas décadas mostram que o ritmo de crescimento populacional diminui quando se eleva as taxas de urbanização e aumentam os níveis de inclusão social e os direitos de cidadania. Desta forma, a população mundial no final do século XXI poderá ultrapassar 12 bilhões se o crescimento da qualidade de vida acontecer em ritmo lento ou poderá ficar abaixo de 10 bilhões se houver conquistas sociais importantes.
Reforçando a ideia de que “a cidadania é o melhor contraceptivo” (Martine, Alves, Cavenaghi, 2014), diversos estudos mostram que as taxas de fecundidade tendem a cair com o avanço da renda, da educação, das condições de moradia, do acesso à informação, etc.
Pesquisas do International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA) confirmam, com base em vários cenários de projeção, que a educação pode ter um papel-chave na determinação do ritmo de crescimento demográfico no século XXI. Quanto maior for o ritmo de crescimento da educação, menores serão as taxas de fecundidade, com as respectivas reduções no volume da população esperada em 2100.

maior educação e menor fecundidade

No dia 23 de outubro de 2014 foi lançado, no Wilson Center, em Washington DC, o livro “World Population and Global Human Capital in the 21st Century” (LUTZ et. al, 2014) mostrando que a população mundial, no cenário mais provável, deverá atingir um pico de 9,4 bilhões de habitantes em torno de 2070 e, em seguida, decrescer para 9 bilhões de pessoas até o final do corrente século. Mais do que apenas números populacionais, o livro também inclui projeções específicas para a população por idade, sexo e nível de escolaridade, para 195 países, entre 2010 e 2100.
Por exemplo, se a maioria dos países expandir os seus sistemas educacionais no ritmo realizado pela Coreia do Sul, então a população mundial ficará em torno de 8,87 bilhões de habitantes em 2060. Se a expansão dos sistemas educacionais expandirem no ritmo médio das últimas décadas, a população mundial será de 9,34 bilhões de habitantes em 2060. Se não houver melhorias no ritmo de expansão educacional a população mundial será algo em torno de 9,84 bilhões de habitantes em 2060.
Toda a literatura demográfica mostra que existe uma relação inversa entre educação e fecundidade. O grande desafio é avançar com os anos médios de estudo. A dificuldade é sair da “armadilha da pobreza” e da falta de orçamento e capacidade de gestão dos países do chamado Terceiro Mundo, especialmente dos chamados “Estados falidos”. Universalisar o acesso ao ensino fundamental é uma tarefa muito dificil nos países de baixa renda. Universalisar o ensino médio é mais dificil ainda. Garantir qualidade na educação é outra tarefa que exige grande esforço. Por outro lado, a queda da fecundidade ajuda no processo de expansão educacional, pois menor número de filhos por família e coortes menores tendem a aumentar o investimento per capita em educação.

população mundical por nível de educação

Desta forma, juntamente com a educação é preciso garantir o respeito aos direitos sexuais e reprodutivos. Educação e saúde são direitos básicos, mas muitos países não conseguem garantir as condições mínimas de cidadania. Seria ótimo se fosse efetivada a meta 5b dos ODMs: “Alcançar, até 2015, o acesso universal à saúde reprodutiva”. Com altos níveis de educação e autodeterminação reprodutiva a transição demográfica estaria praticamente garantida e o pico da população global seria alcançado mais cedo.
Quando se trata de projeções populacionais, o importante é compreender que o ser humano tem livre arbítrio para traçar o seu futuro. Os cenários demográficos para o século XXI estão em aberto e a civilização atual tem o poder de escolha e os meios para definir o número de humanos que vão habitar a Terra no final do século XXI. Qualquer que seja a decisão, espera-se que a humanidade não haja de forma egocêntrica, mas sim de maneira altruísta e ecocêntrica, respeitando o meio ambiente e a maioria absoluta das demais espécies vivas do Planeta.
Referências:
GERLAND, Patrick et. al. World population stabilization unlikely this century, Science 10 October 2014 Vol. 346 no. 6206 pp. 234-237, Published Online September 18 2014
LUTZ, Wolfgang. World population likely to peak by 2070, IIASA, Viena,23 October 2014
LUTZ, W, BUTZ W, and KC S, eds. 2014 World Population and Global Human Capital in the 21st Century, Oxford University Press 2014.
MARTINE, G. ALVES, JED, CAVENAGHI, S. Urbanização e transição da fecundidade. EcoDebate, RJ, 23/01/2014 (Working Paper, IIED, em ingles: http://pubs.iied.org/pdfs/10653IIED.pdf)

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 31/10/2014

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