Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A América Latina foi uma região que apresentou uma das maiores taxas de crescimento econômico entre 1950 e 1980. Houve melhoras em diversos indicadores sociais, como na educação e saúde e redução da pobreza, embora o continente latino-americano seja conhecido como a região mais desigual do mundo.
Todavia, a crise econômica dos anos de 1980 fez a pobreza e o desemprego subirem, enquanto a renda per capita ficou estagnada. Este período ficou conhecido como a “década perdida”. Nos anos de 1990 houve uma certa estabilização dos indicadores macroeconômicos, mas a retomada das taxas de crescimento econômico mais significativas só voltaram a ocorrer (mesmo que em patamares menores do que no ciclo pós-Segunda Guerra) após os anos de 2002 e 2003.
O menor ritmo de crescimento fez cair a participação do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e Caribe (ALC), Brasil e Argentina no PIB mundial, entre 1980 e 2013. Nestes quase 25 anos, houve perda relativa, especialmente frente as economias asiáticas, lideradas pela China. A maior perda ocorreu entre 1980 e 1990 quando a participação da ALC caiu de 11,5% para 9,5%, do Brasil caiu de 4% para 3,3% e da Argentina caiu de 1,2% para 0,78%. Mas o declínio relativo continuou até 2002 no caso da Argentina, quando atingiu apenas 0,65% do PIB mundial e 2003 no caso da ALC (8,4%) e do Brasil (2,7%).
Porém, após 2002 houve crescimento acima da média mundial, com pequena recuperação do peso relativo da região na economia global, mas sem voltar aos níveis de 1980. Em 2013 o PIB da ALC chegou a 8,7% do PIB mundial, o da Argentina a 0,9% e do Brasil a 2,8% do PIB global. Foi a valorização dos preços das commodities exportadas que favoreceu os termos de intercâmbio internacional, permitindo uma retomada do crescimento com avanços sociais.
Mas o ano de 2014 não foi nada bom para a região, pior ainda para o Brasil e a Argentina. Segundo relatório da Cepal, o crescimento do PIB da ALC ficou em 1,1%, bem abaixo do desempenho mundial que foi de quase 3%. Enquanto Panamá e Republica Dominicana cresceram 6% e Colômbia 5,2%, o Brasil cresceu 0,2% e a Argentina -0,2%. Os dois maiores países da América do Sul cresceram muito menos do que o Haiti.
Para 2015 (dois mil e “crinze”) as perspectivas não são melhores. O Brasil vai fazer um ajuste fiscal como anunciou o novo Ministro da Fazenda – Joaquim Levy – e a Petrobras que era a principal “locomotiva” da cadeia industrial está em uma crise sem precedentes e incapaz de liderar qualquer recuperação. Assim, deve haver aumento do desemprego, aumento da pobreza e redução da renda e das condições de vida. Já há estimativas de queda do PIB brasileiro em 2015.
Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-ministro argentino – Domingo Cavallo – disse que a Argentina terá, em 2015, um ano mais complicado, com uma das taxas de inflação mais altas do mundo, mais recessão e aumento do desemprego. Segundo ele, o país tampouco conseguirá chegar a um acordo com os chamados “fundos abutres”, sendo que a situação da Argentina hoje não é muito diferente daquela vivida há 12 anos. O FMI estima queda do PIB argentino em 2015.
Matéria do jornal Folha de São Paulo, com base em análise da consultoria Marsh, mostra que o Brasil passou para o bloco dos países emergentes que não apresentam grandes oportunidades para investidores, ao lado da Rússia e da África do Sul. A situação da Argentina é ainda pior do ponto de vista de atração de capitais externos.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) o Brasil continua em penúltimo lugar no ranking anual de competitividade divulgado em 14/01/2015. Quando comparado aos seus 14 principais concorrentes em termos econômicos, o Brasil ficou à frente apenas da Argentina. Para elaborar o estudo, a CNI leva em consideração oito fatores considerados decisivos para as empresas conquistarem mercados internos e externos, como disponibilidade e custo de mão de obra, custo de capital, infraestrutura, impostos, ambiente macro e microeconômico. Brasil e Argentina possuem enormes déficits no balanço de pagamento e cada vez recorrem mais à atração de capitais externos.
Mas a fase de lua de mel com o capital internacional já passou. A América Latina e seus principais países podem ter uma segunda década perdida, em termos de crescimento econômico. Consequentemente, as condições sociais podem se agravar dificultando o processo de redução da pobreza e da desigualdade. A pior situação é da Venezuela, segundo os dados da Cepal. Atualmente o desempenho econômico latino-americano perde até para a África Subsaariana.
Desta forma, não será fácil segurar a lanterninha do crescimento econômico mundial, especialmente porque a ALC é a região mais desigual do mundo e as condições sociais e ambientais também não avançam de forma adequada.
A tensão social deve aumentar. A alternativa é repensar o modelo de produção e consumo que está patinando em termos econômicos, é injusto socialmente e é ecologicamente insustentável
Referências:
FMI, WEO Database, oct 2013: http://www.imf.org/external/datamapper/index.php
CEPAL, Balance Preliminar de las Economías de América Latina y el Caribe, Santiago do Chile, dez 2014
http://www.cepal.org/es/publicaciones/balance-preliminar-de-las-economias-de-america-latina-y-el-caribe-2014
Mercado Aberto. Brasil está entre emergentes fracos, diz consultoria. Folha de São Paulo, 14/01/2015
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2015/01/1574610-brasil-esta-entre-emergentes-fracos-diz-consultoria.shtml
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 21/01/2015
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